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Otan volta a expor divisões em Berlim sobre ataques à Líbia de Kadafi


Reunidos ontem em Berlim para analisar o andamento e os próximos passos da campanha militar contra o regime de Muamar Kadafi, na Líbia, os chanceleres dos 28 países que integram a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan, aliança militar liderada pelos Estados Unidos) concordaram apenas sobre uma coisa: que a guerra não será breve, ao contrário do que previa inicialmente a coalizão ocidental. Os governos da França e do Reino Unido, endossados pelo secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, pressionaram os parceiros ; menos da metade participa da operação ; a colocarem mais aviões à disposição, mas não receberam ofertas. Os EUA, empenhados militarmente no Afeganistão e no Iraque, deixaram claro que se manterão em segundo plano na Líbia.

O desconcerto entre as potências que lideraram nas Nações Unidas a iniciativa para autorizar a intervenção militar no conflito líbio ; sob a justificativa de proteger a população civil da violenta represália de Kadafi ; ficou exposta nas declarações conflitantes feitas por dois dirigentes em uma reunião na sede da Liga Árabe, no Cairo. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, defendeu o retorno à via diplomática. ;Reiteramos nosso chamado a um cessar-fogo imediato e pedimos um processo político para que o povo líbio possa alcançar suas aspirações;, afirmou. Já a chefe da diplomacia da União Europeia, Catherine Ashton, reiterou ;a posição muito clara da UE, de que o coronel Kadafi deve se retirar imediatamente;.

;Para evitar vítimas civis, precisamos de equipamento muito sofisticado e, em especial, de mais aviões de combate para atacar alvos em solo líbio;, explicou o secretário-geral da Otan aos chanceleres, em Berlim. Itália, Holanda e Suécia, que ofereceram aviões, reiteraram a proibição de que eles realizem bombardeios ; os três governos apenas patrulham a zona de exclusão imposta à força aérea líbia. A Espanha, onde o gabinete socialista enfrenta forte rejeição do público à operação e limita-se a apoiar a imposição de um embargo de armas a Kadafi, reafirmou que é esse o seu limite. ;É com isso que a Espanha contribui e esse o compromisso que mantemos;, disse a chanceler Trinidad Jiménez.

Em artigo escrito a seis mãos, para ser publicado hoje na imprensa dos EUA, da França e do Reino Unido, além de alguns países árabes, os presidentes Barack Obama e Nicolas Sarkozy e o premiê David Cameron reiteraram a determinação de afastar o ditador líbio. ;É impossível imaginar um futuro para a Líbia com Kadafi;, diz o texto, cuja publicação foi concebida com o objetivo de mostrar unidade. ;Não se trata de afastar (o ditador) pela força, mas é impensável que qualquer um disposto a massacrar o próprio povo tenha um papel no futuro governo líbio.;

Nos bastidores da reunião de Berlim, porém, os desencontros se multiplicaram. O chanceler francês, Alain Juppé, conversou em separado com a colega Hillary Clinton para pedir mais apoio aéreo à coalizão. ;Eu disse (a Hil-lary) que precisamos deles e gostaríamos que retornassem ao primeiro plano;, disse Juppé à imprensa, após o encontro. ;Mas os EUA continuarão na mesma linha, fornecendo aviões de forma pontual;, resignou-se.

Kadafi desafia
O impasse entre os aliados ocidentais coincidiu com um dia de ferozes combates entre as forças de Kadafi e os rebeldes na estratégica cidade de Adjabiya, cujo controle mudou várias vezes de mãos nas últimas semanas. O ditador líbio, aparentando confiança, desafiou uma nova rodada de bombardeios contra Trípoli e desfilou pelas ruas da capital em carro aberto, erguendo os punhos e saudando seus partidários. A TV oficial afirmou que a aparição coincidiu com os bombardeios, e mostrou um auxiliar do líder de pé, no banco dianteiro, puxando com os manifestantes o coro de ;Deus, Líbia, Muamar e nada mais;.

EUA fustigam o Irã

A violenta represália do regime sírio às manifestações pela democracia serviu ontem de pano de fundo para mais um duelo diplomático ; por procuração ; entre Washington e Teerã. ;Acreditamos que há informações críveis de que o Irã está ajudando a Síria na repressão;, afirmou em Washington o porta-voz do Departamento de Estado, Mark Toner. Falando ao Wall Street Journal, funcionários americanos sugeriram que o regime iraniano estaria ;compartilhando as lições aprendidas; na supressão dos protestos que se seguiram à reeleição do presidente Mahmud Ahmadinejad, em 2009. ;As declarações do porta-voz não têm fundamento;, respondeu um funcionário sírio, em Damasco. ;Se o Departamento de Estado tiver provas, que as mostre;, desafiou.