Todos os movimentos, seja da população ou dos governos árabes, têm sido acompanhados de perto pelos Estados Unidos e por Israel, que receiam a perda de aliados tradicionais e a ascensão de regimes islâmicos na região. No Egito, a queda de Hosni Mubarak, com quem Israel mantinha uma relação próxima, já abriu espaço para o Irã: há duas semanas, dois navios de guerra da República Islâmica cruzaram o Canal de Suez rumo ao Mediterrâneo. Outro temor é de que a revolta chegue à Arábia Saudita, quinto maior exportador de petróleo para os EUA, visto por Washington como contraponto à influência de Teerã.
;Três interesses vitais dos EUA estão em jogo: a segurança de Israel, o fornecimento de petróleo e a contenção do Irã. Convulsões políticas que enfraqueçam qualquer um desses elementos vão prejudicar os EUA na região e no mundo;, resume o especialista Ray Walser, da conservadora Fundação Heritage, de Washington. Dois desses elementos foram postos em jogo no incidente dos navios iranianos, que se aproximaram de Israel e do continente europeu com consentimento do novo governo egípcio.
O presidente israelense, Shimon Peres, falou em uma ;provocação barata;, mas seu governo monitorou todo o trajeto das duas embarcações até a Síria. Para Walser, Israel tem ;todos os motivos; para temer ;a mudança que essa ação demonstra;: ;Esse episódio é uma demonstração descarada da crescente influência iraniana;, observa. Larry Diamond, especialista em Oriente Médio pela Universidade de Stanford, concorda que esse deve ser um motivo de preocupação para Israel, mas considera dúbia a mensagem que o governo de transição no Egito quis enviar ao Ocidente. ;Não está claro se estavam simplesmente tentando mostrar aos EUA que também têm cartas na manga ou se, realmente, estão dispostos a se aproximar de Teerã;, afirma.
No caso da Líbia, a preocupação é com a ascensão de um governo islâmico. ;É interesse dos EUA e de Israel ver Muamar Kadafi fora do governo, mas há riscos significativos inerentes ao poder que se seguiria;, pondera Walser. Segundo o especialista, embora o principal grupo extremista líbio não tenha mostrado força para remover Kadafi no passado, um vazio de poder pode abrir espaço a uma ;base operacional; dos radicais. ;Se eles tiverem acesso ao arsenal do atual regime, poderão vender armas para os extremistas de toda a região. Então, os EUA e seus aliados, particularmente Israel, enfrentarão uma ameaça ainda maior que a representada por Kadafi;, adverte.