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Japão admite que poderá ampliar zona de exclusão de Fukushima


O governo japonês já admite que o vazamento de radiação da usina nuclear de Fukushima terá consequências por muitos anos e trabalha com um plano para retirar os moradores além da zona de exclusão de 20km, declarada imediatamente após o terremoto seguido de tsunami, em 11 de março. Com a ajuda de líderes comunitários, as autoridades devem preparar os moradores para uma situação de emergência, caso os níveis de radiação aumentem nos próximos dias. A revelação se seguiu ao anúncio oficial de que o acidente na central, provocado pelo terremoto seguido de tsunami, em 11 de março, atingiu a mesma classificação do ocorrido em 1986 em Chernobyl, na Ucrânia ; até hoje, o mais sério ocorrido na indústria nuclear.

Apesar de ter sido classificado na posição 7 na Escala Internacional de Incidentes Nucleares e Radiológicos (Ines), o acidente em Fukushima liberou até agora apenas 10% das emissões verificadas em Chernobyl. O grande problema, para o Japão, é o tempo de exposição ao material radioativo e a demora para resolver os vazamentos. Os níveis de iodo e césio no meio ambiente continuam milhares de vezes acima do normal e podem afetar a saúde dos japoneses pelas próximas décadas.

A decisão de elevar o grau de seriedade da crise em Fukushima foi justificada por conta dos repetidos vazamentos nos reatores. As emissões podem ter ;amplos efeitos para a saúde e o meio ambiente;, de acordo com os padrões do Ines. Segundo a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), porém, apesar da gravidade, o caso é diferente do ocorrido na Ucrânia. O acidente, que completa 25 anos no próximo dia 26, foi causado por uma forte explosão e os níveis de radioatividade no local subiram rapidamente. No Japão, a contaminação ocorreu paulatinamente, mas ainda é grave por causa da instabilidade nos reatores. ;São acidentes totalmente diferentes, com dinânicas completamente distintas. E vemos que os níveis de vazamento, como avaliaram os especialistas japoneses, são significativamente diferentes;, garantiu ontem Denis Flory, subdiretor de Segurança Nuclear da AIEA.

Para Kellen Adriana Cursi Daros, física do Departamento de Diagnóstico por Imagem e pesquisadora de proteção de radiologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o único fator comum entre os casos do Japão e da Ucrânia são os constantes cuidados com a contaminação. ;Em Chernobyl, os recursos de segurança eram escassos e as consequências foram piores. Em Fukushima, será necessário um trabalho maior dos órgãos de controle, que devem ficar atentos aos níveis de radiação. Esse é um problema que os japoneses terão de gerenciar por várias gerações;, afirma a especialista.

Dados apresentados pelas autoridades mostraram que, nos próximos 12 meses, um habitante da região de Fukushima pode estar exposto a taxas de radiação capazes de causar problemas de saúde no futuro. Elas correspondem a 4 mil vezes o limite fixado pelas Nações Unidas. Muitos moradores resolveram deixar suas casas por conta própria. ;São situações críticas com as quais a população vai ter de aprender a trabalhar, para não sofrer os efeitos da radiação. Será necessário fazer um monitoramento constante de alimentos e do ar para a vida continuar normalmente. Porém, os limites de dose considerados como padrão podem mudar com o passar dos anos. Os efeitos só serão conhecidos com o tempo;, afirma Daros.

Avanços
O primeiro-ministro Naoto Kan procurou, no entanto, tranquilizar os japoneses e disse acreditar que os problemas possam ser resolvidos nas próximas semanas. ;Passo a passo, os reatores da central avançam para a estabilidade. O nível de vazamento radioativo está caindo;, afirmou Kan, em entrevista coletiva. O premiê também pediu aos japoneses que ajudem na reconstrução do país e comecem a retomar a vida normal. O governo vai reforçar ainda mais o monitoramento dos artigos produzidos na região, especialmente dos alimentos, mas o primeiro-ministro pediu à população que ajude os comerciantes da área sob alerta: ;As pessoas não deveriam se entregar a um comportamento de autorrestrição. Consumir os produtos da região também é uma forma de apoiar o povo;.