LIMA - O candidato de esquerda Ollanta Humala venceu o primeiro turno eleitoral de domingo no Peru e enfrentará no dia 5 de junho a parlamentar de direita Keiko Fujimori - resultado que foi qualificado pelos analistas como o triunfo dos extremos.
Humala, um ex-militar nacionalista de 48 anos, conquistou 30,5% dos votos contra 23,1% da congressista Fujimori - filha do ex-presidente Alberto Fujimori - e 20,1% do ex-ministro conservador Pedro Pablo Kuczynski, com 80% dos votos apurados. "Acredito que a escolha muito provavelmente será entre Ollanta e ela, e por isso felicito os dois", disse Kuczynski, sem chegar, no entanto, a reconhecer sua derrota.
Além de Kuczynski, foram derrotados o ex-presidente Alejandro Toledo e o ex-prefeito de Lima Luis Castañeda, entre os quais se dividiu o voto moderado.
A apuração oficial pode terminar em alguns dias, levando-se em conta a impugnação dos resultados em algumas zonas eleitorais, mas os resultados parciais confirmam o que afirmaram no domingo de forma unânime as pesquisas após o fim da votação: que o segundo turno seria entre Humala e Fujimori. "A informação dada pelas empresas de pesquisa era suficiente para dizer que Humala e Keiko passariam para o segundo turno", disse à AFP o diretor da CPI, Manuel Saavedra. "Não vão acontecer mudanças de posições", acrescentou.
Perante este panorama, a Bolsa de Valores de Lima caía no início da tarde desta segunda-feira a 3,15% negativos. "Há uma incerteza no mercado pelos dois candidatos que chegaram ao segundo turno", disse à AFP Jorge Ramírez, analista da Sociedad Agente de Bolsa (SAB). "Isto é normal porque os investidores não têm a certeza de que rumo econômico o país tomará", acrescentou.
Humala prometeu que convocará uma Assembleia Constituinte para modificar a Carta Magna promulgada durante o governo de Alberto Fujimori (1990-2000), considerada a coluna vertebral do modelo econômico de livre mercado.
Humala, que promete redistribuir a renda, pediu em várias ocasiões que não haja campanha de medo e no domingo pronunciou um discurso de vitória conciliador, oposto ao radical de 2006, quando foi derrotado no segundo turno pelo atual presidente, Alan García. "Estamos dispostos a fazer muitas concessões pela unidade do Peru e vamos conversar com todos os partidos políticos", disse Humala.
Nenhum partido terá a maioria no Parlamento unicameral peruano, de 130 membros. A maior minoria é o ;humalismo; que, segundo as projeções, terá 46 assentos (contra 25 atualmente), segundo pelo fujimorismo, que, de 13, passa a ter 38.
O governista APRA desabou: de 36 congressistas que possuía passará a apenas 4. Somados, os três candidatos moderados obtêm 39 assentos. O resto corresponde a partidos menores.
Em uma entrevista para o jornal La Vanguardia de Barcelona, o prêmio Nobel de Literatura Mario Vargas Llosa afirmou que "aqui se enfrentam extrema-esquerda e extrema-direita com um centro dividido em três partidos". "Mas o drama é que, dada a insensatez dos políticos, estes três candidatos se destroçaram, fizeram uma campanha feroz de guerra suja entre eles", afirmou em referência a Kuczynski, ao ex-presidente Alejandro Toledo e ao ex-prefeito de Lima Luis Castañeda.
"Venceram os extremos que encarnam o populismo: Humala é populismo de esquerda e Keiko, o neopopulismo de direita. Esta polarização terá vários níveis, já que os dois são autoritários", disse à AFP Luis Benavente, analista da Universidade de Lima.
"Assume-se sempre que os candidatos de centro ganham e os de extremos perdem. Aqui ocorreu o oposto, os candidatos dos extremos venceram e passam ao segundo turno: Humala é o mais esquerdista e Keiko a mais direitista" dos candidatos, acrescenta o analista.
"O problema que têm é como vão fazer para atrair os que não votaram neles porque percebem em ambos os candidatos uma ameaça ao sistema democrático", indica o escritor e analista Mario Ghibellini.
Segundo Ghibellini, Keiko gera temores pelas coisas ruins em relação à democracia, direitos humanos e corrupção feitas pelo fujimorismo durante o governo de seu pai, enquanto "Humala é visto como uma ameaça à democracia por sua suposta proximidade com o modelo chavista".