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Kadafi chama Obama de 'nosso filho' e pede o fim dos bombardeios

Com um tom muito diferente da agressividade corriqueira das declarações públicas, o ditador líbio, Muamar Kadafi, escreveu uma carta ao presidente Barack Obama, pedindo a intercessão do americano para cessarem os ataques ao país. No texto, ele chama Obama de ;nosso filho; e diz que deseja vê-lo reeleito em 2012. ;Ainda rezamos para que você continue como presidente dos EUA. Você é um homem que tem coragem para anular uma ação errada;, afirmou o líder líbio. As palavras amistosas não parecem ter convencido Washington. A Casa Branca respondeu que pretende ver ações concretas, como o fim da violência, e não apenas palavras de Kadafi.

;Falar é diferente de atuar;, disse o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney. A secretária de Estado, Hillary Clinton, por sua vez, reforçou as exigências para iniciar o diálogo com o ditador líbio. ;A respeito da carta, penso que o senhor Kadafi sabe o que ele deve fazer;, disse, em entrevista. ;Precisa haver um cessar-fogo, sua forças têm que se retirar das cidades que tomaram à força. Precisa haver uma decisão sobre sua saída do poder e sua saída da Líbia.; Na carta, Kadafi argumenta que a campanha da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) atingiu a Líbia mais moralmente do que fisicamente. Ele denunciou uma intervenção política, além de militar, da aliança atlântica. ;Como você (Obama) bem sabe, a democracia e a construção de uma sociedade civil não podem ser conseguidas com mísseis e caças, ou apoiando membros armados da Al-Qaeda em Benghazi;, disse.

Diante da violência crescente e do impasse político na Líbia, um novo possível mediador apresentou-se ontem. Após participar de um evento promovido pela Microsoft, em Washington, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que não descarta contribuir para resolver a crise. ;Se alguém, a minha presidente ou alguém, achasse necessário, e falasse: ;Bom, o Lula pode contribuir;, eu contribuiria tranquilamente;, disse a jornalistas. Antes, ele havia esclarecido que tem ;discordância política e ideológica; com o ditador líbio. No entanto, ressaltou que, aparentemente, isso não atrapalharia a mediação.

A Otan admitiu ter enfrentado dificuldades para atingir as forças do governo líbio. ;Elas empregam táticas não convencionais, se misturam nas estradas com o trânsito normal e usam civis como escudos para poder avançar;, disse o contra-almirante britânico Russ Harding, comandante adjunto da Operação Protetor Unificado. Segundo ele, há dificuldades para destruir tanques em zonas habitadas. ;Como não estamos autorizados a empregar forças terrestres, temos um limite físico.;
Naufrágio

Mesmo para quem consegue deixar a Líbia, não há a garantia de alívio imediato. Ontem, um acidente com um barco de refugiados chocou o mundo e expôs a situação de desespero dos imigrantes. A embarcação, com cerca de 200 refugiados a bordo, vinha da Líbia e afundou a cerca de 70km da ilha italiana de Lampedusa. De acordo com o capitão italiano Vittorio Alessandro, porta-voz da guarda costeira da Itália, 48 pessoas foram resgatadas. Os helicópteros ajudaram a localizar 15 corpos. Estima-se que cerca de 150 pessoas tenham morrido, em sua maioria eritreus e somalis. Segundo relatos dos sobreviventes, o barco virou quando o mar estava revolto. No entanto, as autoridades italianas não descartam que uma falha humana também possa ter contribuído para o naufrágio.

Nosso filho, Excelência,
Presidente Obama

EUA

Temos sido feridos mais moralmente do que fisicamente pelo que tem sido feito tanto em ações com palavras por vocês. Apesar de tudo isso, você sempre será nosso filho, aconteça o que acontecer. Continuamos rezando para que você continue como presidente dos EUA. Nós procuramos e esperamos que você vença a nova campanha para a eleição. Você é um homem que tem coragem suficiente para anular uma ação errada e equivocada. Estou certo de que você é capaz de assumir a responsabilidade por isso. Já há evidências suficientes, considerando que você é o presidente da maior potência do mundo na atualidade, e que a OTAN está travando uma guerra injusta contra um pequeno povo de um país em desenvolvimento. Este país já tem sido submetido a embargo e sanções, além disso, também sofreu uma agressão militar direta durante o mandato de (Ronald) Reagan. Este país é a Líbia. Assim, para servir a paz no mundo... a amizade entre os nossos povos... e pela cooperação econômica e de segurança contra o terror, você está na posição para manter a Otan longe da Líbia para o bem de todos.

Como você sabe muito bem, a democracia e construção da sociedade civil não podem ser alcançados por meio de mísseis e aeronaves, ou por meio do apoio a membros armados da Al-Qaeda em Benghazi.

Você - você mesmo - disse em muitas ocasiões, uma delas na Assembléia Geral da ONU, e eu testemunhei isso pessoalmente, que a América não é responsável pela segurança dos outros povos. Que a América só ajuda. Esta é a lógica correta.

Nosso querido filho, Excelência, Baraka Hussein Abu Oumama, a sua intervenção em nome dos EUA é uma necessidade para que a Otan se retire finalmente da Líbia. A Líbia deve ser deixada para os líbios dentro do escopo da União Africana. O problema agora é o seguinte:

Há intervenção tanto política como militar da Otan
O terror conduzido por gangues da Al-Qaeda, que estão armadas em algumas cidades, e, pela força, se recusam a permitir que as pessoas voltem à sua vida normal e continuem com o exercício de seu poder social, como de costume.

Mu;aumer Qaddaffi
Líder da Revolução
Trípoli, 05/04/2011