Rikuzentakata (Japão) - No balneário de Rikuzentakata, atingido em cheio pelo tsunami que varreu a costa nordeste do Japão no dia 11 de março, apenas um pinheiro sobreviveu, incólume, à força das águas, transformando-se para os sobreviventes da catástrofe em símbolo de esperança e reconstrução.
Situada a 410 quilômetros de Tóquio, a cidade costeira tinha mais de 70.000 pinheiros plantados em uma área de dois quilômetros, por onde a onda gigante passou sem deter-se.
"Levando em consideração que esta é a última árvore intacta, vai se tornar símbolo da reconstrução", acredita Eri Kamaishi, de 23 anos, morador de Rikuzentakata.
Todas os prédios da cidade, com exceção de uma dúzia de edifícios de concreto mais resistentes, foram destruídos. Mil pessoas morreram e cerca de 1.300 ainda estão desaparecidas.
As equipes de resgate trabalham noite e dia recolhendo corpos na paisagem desolada do balneário, onde as operações de limpeza dos escombros não estão tão adiantadas quanto em outras cidades afetadas pelo tsunami.
A magnitude da destruição em Rikuzentakata é tamanha que, salvo o pinheiro, faltam referências para se localizar e decifrar o que ficava aonde na cidade.
Vista de perto, a conífera de aproximadamente 10 metros de altura, exibe as marcas do trauma: a resina do tronco escorre por uma fenda, enquanto os troncos mais baixos foram arrancados. No alto, porém, as folhas estão verdes, bem visíveis contra o céu azul de inverno.
"Esta árvore sobreviveu. É um milagre", diz Tomohiro Owada, porta-voz da comunidade local. "Uma vez concluídas as operações dos socorristas, estamos planejando conservá-lo como um símbolo de nossa reconstrução".
"Para nós, os pinheiros são muito especiais", explica Yasuo Murakami, de 69 anos.
Os habitantes do balneário atribuem à árvore sobrevivente virtudes de proteção, e segundo Murakami, ajudará os sobreviventes a superar o trauma da tragédia.
Ele perdeu a mulher, a irmã e o neto, de seis anos de idade, cujo corpo ainda não foi localizado.
Já Hiroko Kikuta recorda a beleza da praia, onde as pessoas aproveitavam os dias ensolarados para nadar e jogar vôlei.
"Foi tudo apagado, com exceção desta árvore", encanta-se uma mulher de 62 anos, cujo marido desapareceu no dia 11 de março.
"Vai ser difícil cuidar dela", estima, afirmando que talvez as raízes tenham sofrido mais do que as aparências indiquem.
"Gostaria de ver novamente aqui uma praia magnífica e os esplêndidos pinheiros de antes, mas possivelmente eu não estarei mais viva quando isto acontecer", lamenta.
Os pinheiros da praia de Rikuzentakata, que atraía 200.000 turistas por ano, foram plantados a partir do século XVII por um rico comerciante local para permitir que os habitantes se protegessem do forte vento que sopra do mar ali.