Uma decisão ;injusta;, ;ilegítima; e tomada sob pressão dos Estados Unidos. Foi assim que o Irã interpretou a resolução do Conselho de Direitos Humanos (CDH) da ONU de designar um relator especial para investigar a situação do país. Das 47 nações representadas no organismo, 22 votaram a favor ; inclusive o Brasil ;, sete foram contrários e 14 se abstiveram. Segundo a chancelaria iraniana, alguns países ;em dúvida; teriam cedido à pressão dos EUA, acusados também de manter uma postura ;dúbia;, ao apontar violações de direitos humanos em outros países e não respeitá-los no próprio território. No entanto, nenhuma autoridade iraniana singularizou o Brasil nem procurou o governo brasileiro para falar sobre o voto, que rompeu uma política de sete anos se abstendo na votação de resoluções contrárias ao Irã.
O chanceler iraniano, Ali Akbar Salehi, declarou por meio de seu porta-voz, Ramin Mehmanparast, que a decisão do CDH foi tomada, ;apesar das dúvidas de alguns países, sob pressão dos Estados Unidos;. O objetivo seria ;fazer pressão sobre a República Islâmica para desviar a atenção sobre as violações dos direitos humanos no Ocidente, em particular nos EUA;.
O presidente da Comissão de Política Externa e Segurança Nacional do Majlis (parlamento), Ala;eddin Boroujerdi, também classificou a votação em Genebra como ;inaceitável, irreal e completamente motivada por razões políticas;. ;Uma resolução como essa não tem valor judicial nenhum;, acrescentou, adiantando que o Irã não deve aceitar a visita de nenhum relator da ONU.
Dilma e Obama
No dia em que Teerã acusou os países favoráveis à resolução de cederem à pressão de Washington, a presidente Dilma Rousseff recebeu telefonema do colega americano, Barack Obama. O porta-voz do Planalto, Rodrigo Baena, garantiu à imprensa que o tema do Irã e da votação não foi abordado. Segundo Baena, Obama ligou para agradecer a hospitalidade ;maravilhosa; e convidar a anfitriã a visitar Washington ; o que foi prontamente aceito por Dilma. A viagem não tem data marcada, mas deve ocorrer entre agosto e outubro. No telefonema, de cerca de cinco minutos, a presidente agradeceu as ;palavras gentis; do visitante sobre ela, no discurso que fez no Rio de Janeiro, e classificou a vinda de Obama como um ;marco; nas relações bilaterais.
O fato de a visita de Obama ter antecedido em poucos dias o voto do Brasil no CDH, contrariando um governo considerado ;amigo;, suscitou especulações sobre a ligação entre os dois eventos e um possível acerto entre os presidentes. A possibilidade foi negada pelo Itamaraty, que destaca a ênfase que Dilma já dava aos direitos humanos antes mesmo de tomar posse. A chancelaria, contudo, admite que há ;convergência; e ;identificação; da postura assumida pelo novo governo com a de outros países, como EUA e Suíça.
Para o embaixador Roberto Abdenur, que esteve à frente da representação brasileira em Washington entre 2004 e 2007, o Brasil, de fato, não tomou essa atitude ;para atender aos americanos;. ;A presidente Dilma já tinha sinalizado esse voto quando, ainda no governo anterior, discordou da posição seguida na Assembleia Geral (quando o Brasil se absteve de votar);, disse. Agora, os países membros poderão sugerir nomes para o cargo de relator especial, e a decisão será do presidente do conselho, o tailandês Sihasak Phuangketkeow.
O escolhido será responsável por elaborar um relatório, que poderá servir de base para possível censura do CDH a violações de direitos humanos no país.