TEERÃ - O Irã criticou nesta sexta-feira a resolução do Conselho de Direitos Humanos da ONU, aprovada na quinta-feira (24/3) , que estabelece pela primeira vez desde 2002 um mandato de relator especial para a situação dos direitos humanos no país e manifesta preocupação com repressão em Teerã.
"Esta resolução é injusta, injustificável e totalmente política. Foi aprovada, apesar das dúvidas de alguns países, sob pressão dos Estados Unidos", declarou o porta-voz do ministério das Relações Exteriores, Ramin Mehmanparast.
"O objetivo desta resolução é fazer pressão sobre a República Islâmica do Irã para desviar a atenção sobre as violações dos direitos humanos no Ocidente e em particular nos Estados Unidos", completou.
Vinte e dois membros do Conselho, que tem sede em Genebra, votaram a favor da resolução apresentada pela Suécia e respaldada pelos Estados Unidos e outros países como o Brasil, o que marcou assim uma mudança de atitude do governo Dilma Rousseff em comparação com os dois mandatos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quando o país estabeleceu uma política de abstenção para temas relacionados ao Irã.
Sete países, incluindo China, Cuba, Paquistão e Rússia, votaram contra a resolução e 14 optaram pela abstenção.
A resolução nomeia um relator especial para a situação dos direitos humanos no Irã e lamenta a falta de cooperação das autoridades iranianas.
O texto foi aprovado após a divulgação de um relatório do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, apresentado pela primeira vez diretamente no Conselho de Direitos Humanos em Genebra e não na Assambleia Geral em Nova York.
"Desde o último relatório à Assembleia Geral de 15 de dezembro de 2010, a situação dos direitos humanos no Irã foi marcada por uma intensificação da repressão aos defensores dos direitos humanos, aos militantes dos direitos das mulheres, aos jornalistas e aos opositores do governo", denunciou Ban Ki-moon no documento divulgado semana passada.
Durante a presidência de Lula (2003-2010), o Brasil buscou um papel de mediador para a questão do programa nuclear iraniano e optava pela abstenção nas votações da ONU contra o Irã. Mas a presidente Dilma Rousseff, que assumiu o governo em janeiro, se afastou da postura, primeiro com declarações e agora com o voto.
"O documento aprovado reflete o ponto de vista compartilhado sobre o fato de que a situação dos direitos humanos no Irã merece a atenção do Conselho de Direitos Humanos", disse a embaixadora brasileira em Genebra, Maria Nazareth Azevedo, que também estimulou a cooperação dos iranianos.
"Tenho uma postura bastante intransigente nos direitos humanos. Em meu governo não haverá nenhuma dúvida a respeito", disse Rousseff, que foi torturada como presa política durante a ditadura militar (1964-85), após a eleição.
Ela também disse ter uma posição radicalmente contrária à condenação à morte por apedrejamento da iraniana Sakineh Mohamadi Ashtia