Paris ; Uma ação coordenada dos países ocidentais, liderada por Estados Unidos, França e Grã-Bretanha, atingiu com força neste sábado (19/3) o regime do coronel Muamar Kadafi, na tentativa de impedir um massacre da oposição líbia.
Um ataque aéreo francês contra um "veículo inimigo" na região de Benghazi deu início a um amplo bombardeio, que utilizou mísseis de cruzeiro contra alvos estratégicos em várias cidades, incluindo Trípoli, para cumprir a resolução 1973 da ONU sobre a defesa da população civil na Líbia.
A operação, coordenada a partir do quartel-general das forças americanas na Europa, na cidade alemã de Stuttgart, utilizou ao menos 110 mísseis de cruzeiro Tomahawk, disparados de navios e submarinos de Estados Unidos e Grã-Bretanha, contra instalações do sistema integrado de defesa antiaérea e de comunicações estratégicas, todos situados na costa líbia.
A aviação francesa, que utiliza os Rafale e os Mirage 2000, fez ao menos quatro incursões, destruindo "vários tanques do Exército líbio na região de Benghazi".
Segundo a TV líbia, "objetivos civis" foram bombardeados nas cidades costeiras de Trípoli, Misrata, Zuara e Benghazi, incluindo o hospital de Bir Osta Miled, 15 km a leste da capital.
Em Trípoli, chamas e colunas de fumaça eram visíveis no leste da capital.
Kadafi reagiu à ação prometendo atacar objetivos "civis e militares" no Mediterrâneo e afirmando que vai abrir os "depósitos de armas" para que o povo defensa a Líbia.
Em mensagem à Nação, Kadafi afirmou que o Mediterrâneo será transformado em "um campo de batalha" e qualificou os ataques com aviões e mísseis de "agressão injustificada dos cruzados" contra "o povo líbio, que vai lutar".
O presidente do Parlamento líbio, Mohamed Zwei, chamou o ataque de "agressão bárbara contra o povo" e afirmou que "muitos civis foram feridos; os hospitais estão repletos, as ambulâncias não param".
"Mas esta agressão não convencerá o povo líbio a se entregar aos bandos armados dirigidos pela Al-Qaeda".
Em Brasília, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse que autorizou uma "ação militar limitada" na Líbia, sem a presença de tropas americanas no território, para forçar Kadafi a acatar a resolução 1973 do Conselho de Segurança da ONU.
"Quero que os americanos saibam que o uso da força não é nossa primeira opção (...) mas não podemos permanecer passivos quando um tirano diz a seu povo que não terá piedade, ou quando suas forças intensificam o assalto contra cidades, como em Benghazi e Misrata, onde inocentes enfrentam a brutalidade e a morte nas mãos de seu próprio governo".
Já o porta-voz do ministério russo das Relações Exteriores, Alexandre Loukachevitch, "lamentou esta intervenção armada efetuada com base na resolução 1973 da ONU, adotada apressadamente", e pediu um "cessar-fogo o mais rápido possível".
"Estamos convencidos de que para solucionar de maneira estável o conflito interno na Líbia (...) é preciso deter rapidamente o derramamento de sangue e promover o diálogo entre os líbios".
A pesada ação militar do Ocidente foi deflagrada quando as forças leais a Kadafi avançavam sobre bairros residenciais próximos ao centro de Benghazi, o principal reduto dos rebeldes, a mil quilômetros a leste de Trípoli.
Segundo testemunhas, os bairros do oeste de Benghazi foram bombardeados por tanques e artilharia de Kadafi, e alguns disparos caíram no centro da cidade, sobretudo na rua principal Gamal Abdel Nasser.
Em Foweihat, a 5 quilômetros do centro, ocorriam violentos combates entre os rebeldes e as forças de Kadafi.
Milhares de pessoas fugiram hoje do centro de Benghazi para o nordeste, constatou um jornalista da AFP.
As forças de Kadafi também avançavam sobre Zenten, 145km a sudoeste de Trípoli, atacando posições ao sul da cidade, onde os tanques do governo estão a cerca de 2km do centro.
"Há uma dezena de tanques, veículos blindados leves do tipo BMP e carros com metralhadoras pesadas".
Segundo a testemunha, ao norte da cidade outra frente leal a Kadafi dispara mísseis Grad contra Zenten. Ao menos duas casas foram atingidas e seis pessoas ficaram feridas.