Moscou - Vinte cinco anos depois da catástrofe de Chernobyl, técnicos soviéticos não lamentam o fato de terem participado dos trabalhos de emergência no local, mesmo pondo em risco a própria saúde.
"Não lamento ter ido lá", disse Lev Falkovski, 73 anos, numa entrevista à AFP.
"Sinto muito por ter perdido a saúde, mas era meu trabalho", acrescentou este homem que declara sofrer de diversos problemas cardíacos atribuídos pelos médicos à radiação recebida.
Enviado ao local em junho de 1986, algumas semanas após a explosão em 26 de abril do reator número 4 da usina nuclear soviética, Falkovski - 46 anos na época - fez parte da equipe de milhares de técnicos soviéticos que perderam sua saúde, alguns até a vida.
"Em Chernobyl, os técnicos recebiam em qualquer lugar uma dose (de radiação) bem acima do normal", destacou.
Igor Ostretsov, 72 anos, também não lamenta ter combatido a catástrofe, apesar da arritmia cardíaca e dos "problemas de câncer" que surgiram a partir de 1987, sobre os quais não quis comentar.
"Com certeza, retornaria", garantiu.
Empregado na época no setor nuclear, ele disse ainda ter ido ao local com plena consciência.
"Antes de ir, li tudo o que pude sobre o assunto e tentei seguir as regras" de precaução, explicou.
Um engenheiro ucraniano, Anatoli Gritsak, 62 anos, que trabalhava na usina na noite em que ela explodiu, contou que, pelo contrário, não foi informado realmente sobre a situação.
"Disseram que tinha sido um pequeno incidente. (...) Disseram apenas para pegar dinheiro, papéis e algumas roupas... Nos enganaram e não houve pânico", relembrou este homem, que teve as duas pernas amputadas, mas que afirma não saber se os membros foram retirados por causa da radiação.
Vinte e cinco anos depois, agora que um terremoto e um tsunami no Japão fizeram surgir a ameaça de um novo Chernobyl, alguns técnicos acreditam que está na hora de acabar com a energia atômica.
"A energia atômica contemporânea não deveria existir. Espero que os acontecimentos no Japão sirvam para conscientizar e para que as pessoas compreendam os riscos" da energia nuclear, disse Ostretsov.
Milhares de técnicos, que foram enviados ao local do acidente sem proteção para apagar incêndios e lacrar e enterrar o reator danificado, morreram ao longo dos anos e, apenas na Ucrânia, 2,3 milhões de pessoas, oficialmente, sofreram com as consequências da exposição à radiação, principalmente, com inúmeros casos de câncer.