Lahore, - Uma corte paquistanesa libertou nesta quarta-feira (16/3) o americano Raymond Davis, funcionário da agência de inteligência americana (CIA), depois de exigir uma indenização financeira para as famílias das duas pessoas que ele teria assassinado, informou um ministro do governo local de Lahore.
A decisão encerra um assunto delicado, que durou dois meses e teve ingredientes de um filme de espionagem: tiroteio, perseguição pelo centro da cidade, guerra de nervos entre os serviços secretos, negociações diplomáticas e, finalmente, o pagamento de um "preço de sangue", de acordo com a ;sharia; (lei islâmica).
Após quatro horas de audiência a portas fechadas em um tribunal montado na penitenciária de segurança máxima de Lahore, a cidade do leste do país em que aconteceram os homicídios, o ministro da Justiça da província de Pendjab, Rana Sanaullah, fez o anúncio surpreendente.
"As famílias dos dois homens mortos declararam solenemente ante o tribunal que concediam seu perdão a Raymond Davis", declarou Sanaullah ao vivo no canal paquistanês Geo TV.
Esta surpreendente decisão acontece num momento em que se especulava sobre a possibilidade do tribunal de Lahore condenar Davis por duplo homicídio.
"Ele foi colocado em liberdade, pode ir para onde quiser", concluiu o ministro, antes de afirmar que as famílias aceitaram a "diya", o "preço de sangue", de dois milhões de dólares.
A compensação está prevista na sharia, a lei islâmica que é levada em consideração na República Islâmica do Paquistão paralelamente à justiça comum.
A decisão é capaz de normalizar as tensas relações entre Washington (que reclamava a imunidade diplomática de Davis) e Islamabad, seu aliado na chamada "guerra contra o terrorismo", mas pode irritar a opinião pública paquistanesa, majoritariamente antiamericana e que queria que o "espião americano" fosse julgado e, inclusive, enforcado.
Em 27 de janeiro, em plena luz do dia, o ex-membro das forças especiais americano, contratado pela CIA, segundo fontes paquistanesas, matou dois jovens motociclistas com vários disparos, incluindo alguns pelas costas, convencido de que os motociclistas queriam atacá-lo.
Os investigadores concluíram que Davis cometeu "dois assassinatos a sangue frio".
A imprensa americana informou que Davis, de 36 anos, já foi membro das forças especiais americanas e, segundo os serviços secretos paquistaneses, trabalhava para a CIA.
Washington não desmentiu que Davis trabalhasse para a CIA, onde segundo algumas fontes era responsável por procurar terroristas e vigiar as instalações da única potência nuclear do mundo árabe.
Os principais políticos dos Estados Unidos, incluindo o presidente Barack Obama, alegaram imunidade diplomática de Davis e exigiram sua libertação.
Por sua parte, o governo paquistanês, pressionado pelas manifestações quase diárias, jamais se pronunciou sobre o status do acusado.
Desde o final de janeiro, vários tribunais adiaram as audiências e decisões sobre Davis, alegando que Islamabad ainda não havia confirmado se Davis dispunha ou não de passaporte e visto diplomáticos.