O ditado diz que, após a tempestade, vem a calmaria. No entanto, o drama dos japoneses parece longe de acabar. No dia seguinte ao terremoto e ao tsunami que atingiram o Japão, as notícias ruins continuavam a chegar. As mais graves delas vieram da costa nordeste do país, a área mais próxima ao epicentro do grande tremor de sexta-feira e atingida pelo tsunami.
Em Minamisanriku, segundo as autoridades, 9,5 mil moradores estavam desaparecidos. O número representa metade da população da cidade portuária e pode significar o aumento significativo nas estatísticas de vítimas ; ontem, o governo japonês estimava que o número de mortos chegasse a 1,7 mil. Também na costa nordeste, entre 200 e 300 corpos foram encontrados por militares na região do distrito industrial de Sendai. Outras quatro centenas aproximadamente foram localizadas no porto de Rikuzentakata. Após sobrevoar áreas atingidas, o primeiro-ministro nipônico Naoto Kan considerou o episódio como um ;desastre nacional sem precedentes;.
[SAIBAMAIS]Aos sobreviventes, restava procurar por informações de parentes, contabilizar os prejuízos, procurar abrigo ou conviver com os problemas causados pelo tremor. Elizabete Aoki, brasileira moradora de Toyota, na região norte, contava que a noite de sexta-feira ainda estava viva na memória. ;Não sei o que é pior: o que a gente passa na hora ou a desgraça que vemos no dia seguinte;, disse. De acordo com ela, os fortes terremotos da madrugada aterrorizaram a todos. ;Agora não é mais um momento de pânico, mas de alerta e tristeza;, lamentou a operária de uma fábrica, que já havia voltado ao trabalho ontem.
Morador de Sendai, o estudante goiano Pedro Burjack, 27anos, disse que não havia previsão de quando o fornecimento de energia elétrica seria restabelecido. ;Assim que isso ocorrer, teremos condições de conforto;, disse. Ele contou que, no momento do terremoto, estava na universidade onde estuda e não correu muito risco, porque os prédios da instituição são bastante seguros. ;Só quando voltei para casa, percebi a dimensão da tragédia. Os sinais de trânsito estavam desligados e alguns apartamentos incendiados;, descreveu o mestrando de engenharia de redes.
Resgate
A ajuda estrangeira começou a chegar ao país, A Organização das Nações Unidas reuniu um grupo de nove especialistas em crises como a que vive o Japão. ;Eles vão avaliar as necessidades e coordenar assistência com autoridades japonesas;, afirmou à agência Reuters a porta-voz do Escritório da ONU para Coordenação de Assuntos Humanitários, Elisabeth Byrs. Chegaram ainda equipes de resgate da Austrália, da Nova Zelândia, da Coreia do Sul, dos Estados Unidos, de Cingapura, da Suíça e da Grã-Bretanha.
Segundo a rede de tevê NHK, a Tokyo Electric Power informou a ocorrência de apagões no país, inclusive nas áreas não atingidas pelo terremoto. Para tanto, a companhia elétrica fez um apelo para que a população economizasse luz e que poderá realizar algum tipo de racionamento, com corte no fornecimento em algumas áreas.
Aos poucos, alguns serviços voltam a funcionar. Em Tóquio, parte das linhas de trem e de ônibus foram normalizadas. Os trens-bala de Joetsu e Nagano operaram, apesar dos atrasos. Cerca de nove vias foram fechadas, liberadas apenas para carros de emergências. A situação aérea também foi afetada. Mais de 400 voos domésticos e 30 internacionais foram cancelados. A brasiliense Alexandra Barcat, residente na capital japonesa, contou que o metrô já funcionava, mas grande parte do comércio não abriu. Segundo ela, muitas pessoas estão fazendo estoques de pão e leite. ;Coisa que japonês não faz normalmente;, observou. Apesar do medo e da tensão, ela diz, os japoneses não deixam de lado a solidariedade. ;Na sexta-feira, cafeterias ofereceram bebidas de graça para aqueles que ficaram sem ter como voltar para casa;, contou.