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Cientista afirma acidente em usina no Japão é o mais grave desde Chernobyl

O brasileiro explicou ainda qualquer apagão pode gerar problemas em reatores nucleares

Um dos principais cientistas brasileiros, o físico José Goldemberg foi ministro da Educação, secretário do Meio Ambiente e da Ciência e Tecnologia. Como especialista em produção de energia, ele afirma que o acidente na usina de Fukushima Daiichi, no norte do Japão, é o mais grave desde o desastre em Chernobyl, na Ucrânia, em abril de 1986. Segundo o pesquisador, a nuvem branca que emergiu da explosão ocorrida próxima ao reator 1 da usina carrega perigosos isótopos radioativos como césio, cobalto, estrôncio e argônio.

Integrante da Academia Brasileira de Ciências, Goldemberg alerta que o problema no Japão pode se repetir em qualquer lugar. O comprometimento da refrigeração do reator devido à falta de energia ; no caso de Fukushima, provocada pelo terremoto ;, representa uma ameaça às usinas nucleares. Nesse contexto, nem o Brasil estaria livre de uma catástrofe.

Qual a avaliação que o senhor faz do acidente nuclear no Japão?
O que aconteceu no Japão é um problema nuclear da maior importância. É o desastre mais importante depois de Chernobyl. A diferença é que o material ainda está no vaso de contenção. Se não houvesse essa proteção, uma enorme quantidade de matéria radioativa teria sido espalhada na atmosfera.

O que ocorre quando falta refrigeração no reator?
O reator fica muito quente e a água se decompõe. A decomposição gera hidrogênio. O que ocorreu em Fukushima foi a explosão de hidrogênio, não nuclear. Com a explosão, foi liberada uma nuvem de radioatividade. E é por isso que se criou uma zona de isolamento em torno do reator. Primeiro em um raio de 10km, e, agora, de 20km.

A nuvem carrega o quê?
A nuvem carrega de produtos da fissão do urânio, que são césio, cobalto, estrôncio, argônio. Todos esses elementos são altamente radioativos. Mas, felizmente, ao que tudo indica, a quantidade não foi muito grande.

A zona de isolamento ficará inabitável?
Acredito que os investimentos todos estão perdidos. São US$ 5 bilhões ; que é o custo de um reator nuclear desse tipo ; que vão para o bueiro. Na minha opinião, aquela área não tem recuperação. O nível de radioatividade perdura por muito tempo. Chernobyl, por exemplo, está inabitada até hoje.

Quais são as medidas para tentar diluir efeitos do vazamento?
A primeira coisa é esfriar o reator. É preciso colocar um elemento químico, o ácido bórico, que diminui a temperatura. Se conseguirem fazer isso, será ótimo, mas é cedo para avaliar. Não existe defesa contra a radioatividade. A maneira mais segura é evacuar. Uma medida de profilaxia é a pílula antirradiação, que já foi usada no acidente de 1979, nos Estados Unidos (a explosão da usina de Three Mile Island).

O vazamento de radiação indica a fragilidade das usinas nucleares?
Muita gente começou a apoiar a energia nuclear porque ela não emite carbono ou gases do efeito estufa, que aumentam a temperatura da Terra. Como não ocorreram acidentes grandes desde 1986, estava se vendendo a ideia de que a energia nuclear era segura. Então, era o caminho a seguir para evitar o consumo de carbono. Essa convicção foi seriamente abalada. Porque o problema não é o tsunami, o problema é que falhou o sistema de refrigeração, e o sistema de refrigeração pode falhar por outros motivos também, como um apagão energético.

Esse perigo existe nas usinas de Angra dos Reis (RJ), onde já sofremos com seguidos problemas de apagão energético?
No Brasil, um problema como esse não vai acontecer por um terremoto, mas poderá acontecer por outros motivos, como um apagão, a queima de um motor, a falha no sistema de emergência; Esse tipo de coisa pode acontecer a qualquer momento. Há apagões no Nordeste o tempo inteiro. O grau de confiança dos reatores foi muito abalado pelo acidente do Japão.

O senhor não é entusiasta da energia nuclear?
Existem outras opções de energia: a hidrelétrica, o bagaço de cana. Os países que embarcaram em energia nuclear em grande escala foram a França e o Japão, porque não tinham opções. Países que têm opções, como o Brasil, devem olhar com muito ceticismo a adoção dessa tecnologia. O que ocorreu no Japão vai levar a uma revisão em todos os países, porque não existe nada mais caro do que um acidente nuclear.