Jornal Correio Braziliense

Mundo

Europa promete salvaguardar civis líbios por 'todos os meios necessários'

Bruxelas - Os líderes europeus aumentaram a pressão em torno do líder líbio Muamar Kadafi, concordando em dialogar com seus opositores e proteger os civis líbios "por todos os meios necessários", evitando fazer uma ameaça militar direta.

Reunidos em uma cúpula de emergência sobre a guerra civil que se desdobra no país petrolífero, líderes da União Europeia pediram que Kadafi "deixe o poder imediatamente" e declararam o conselho opositor baseado na cidade de Benghazi (leste) um "interlocutor político" legítimo.

O encontro de seis horas entre líderes divididos do bloco de 27 países encerrou dois dias de reuniões de crise sobre a Líbia em Bruxelas, das quais também participaram ministros da Defesa da Otan e chanceleres da UE.

"O uso da força contra civis, especialmente por meios militares, é inaceitável e precisa parar imediatamente", declarou a União Europeia em um comunicado.

"A segurança das pessoas precisa ser assegurada por todos os meios necessários", acrescentou.

Zona de exclusão

No entanto, não foi feita menção aos pedidos de Grã-Bretanha e França para a declaração de uma zona de exclusão aérea sobre a Líbia, e a demanda contundente do presidente francês, Nicolas Sarkozy, por uma "ação seletiva" contra Kadafi na abertura do encontro foi ignorada.

"A fim de proteger a população civil", destacou o comunicado, "os Estados-membros examinarão todas as opções necessárias, desde que haja necessidade demonstrável, clara base legal e apoio na região", acrescentou.

Uma cúpula tripartite reunindo UE, Liga Árabe e União Africana será celebrada "em breve", destacou a União Europeia. A Liga Árabe se reúne este sábado, enquanto na quinta-feira a União Africana rejeitou categoricamente uma intervenção militar na Líbia.

Na abertura da conferência de Bruxelas, Sarkozy propôs a adoção de "ações seletivas" se Kadafi atacar seu povo com armas químicas ou força aérea "sob a condição de que a ONU o deseje, que a Liga Árabe aceite e que a oposição líbia, que nós desejamos ver reconhecida, concorde".

Mas houve pouco apoio a soluções militares, com a chanceler alemã, Angela Merkel, afirmando ser "fundamentalmente cética" quanto ao prospecto de uma intervenção militar.

"Dada a situação atual, eu não vejo uma ação militar", afirmou.

Seu ministro das Relações Exteriores, Guido Westerwelle, também pediu cautela no que diz respeito à mobilização para a declaração de uma zona de exclusão aérea.

"O que faríamos se não funcionar? Entraríamos em campo com tropas de infantaria? Sou muito cético a esse respeito", afirmou no início da conferência.

Precipitada

Os líderes europeus também se recusaram a endossar a decisão unilateral tomada pela França de reconhecer os adversários de Kadafi como os representantes por direito da Líbia, concordando, ao contrário, em considerar a oposição baseada na cidade de Benghazi (leste) uma parceira para o diálogo.

Novamente, Berlim alertou para que se evite uma medida precipitada.

"Eu aconselho a todos a observar muito cuidadosamente para ver se estas pessoas que dizem representar o povo realmente façam em nome do povo", disse Westerwelle.

"Certos membros da oposição eram, até recentemente, membros do regime de Kadafi", acrescentou.

Corte

Com a União Europeia já impondo as sanções mais duras à Líbia, o premier britânico, David Cameron, instou seus parceiros da UE a cortar os bilhões de petrodólares que sustentam os "horrores" de Kadafi na Líbia.

Cameron promoveu a ideia de um novo arrocho nas finanças depois de a UE ter congelado cinco meios estatais, inclusive um fundo de investimentos ultramarino que abrigava bens e investimentos de alto montante, que estariam sob o controle da família de Kadafi.

O premier britânico disse que "está em consideração" por parte dos líderes da UE a adoção de medidas que poderiam privar o líder líbioi de recursos em sua batalha para reconquistar territórios rebeldes.

"A afirmação foi feita de forma muito contundente por Cathy Ashton (chefe de política externa da UE) de que o regime ainda recebe grandes quantidades de dinheiro de seus ganhos com o petróleo", afirmou.

"Nós realmente precisamos cuidar disso", declarou Cameron, alertando que será um trabalho muito "complicado", "já que muitos dos campos de petróleo estão em território rebelde".