Cairo - O ex-ministro do Interior egípcio Habib el-Adli, odiado pela população, compareceu neste sábado a um tribunal do Cairo para responder as acusações de lavagem de dinheiro e desvio de verbas, sendo assim o primeiro alto funcionário do regime depois de Hosni Mubarak a sentar no banco dos réus.
A audiência deu início a uma série de procedimentos judiciais contra altos funcionários do regime de Hosni Mubarak.
Habib el-Adli, demitido do governo no fim de janeiro, foi detido em 17 de fevereiro, uma semana depois da queda de Mubarak pela pressão das ruas.
El-Adli é desprezado por grande parte dos egípcios, que exigiram desde o início da revolta contra Mubarak, em 25 de janeiro, a demissão do ministro.
Sob o comando de El-Adli, a polícia foi acusada de ter comandado uma repressão sangrenta no início da revolta, com mais de 380 mortos e 6.000 feridos.
El-Adli, vestido com o uniforme branco de detento, se declarou inocente das acusações de lavagem de dinheiro e desvio de fundos públicos.
"Isto não aconteceu", afirmou duas vezes, sem perder a calma.
Em seguida, o processo foi adiado para 2 de abril, após duras discussões entre os dois representantes da sociedade civil presentes no tribunal e os advogados de defesa, que pediram mais tempo para preparar os argumentos.
Segundo o juiz, o ex-ministro do Interior é acusado de abuso de poder na venda de um terreno para um promotor por mais de 4,8 milhões de libras egípcias (800.000 dólares).
Ele também é acusado de envolvimento em uma operação de lavagem de dinheiro no valor de 4,5 milhões de libras egípcias (760.000 dólares).
Mas as acusações não deixaram os militantes pró-democracia satisfeitos. Eles queriam um julgamento por violações dos direitos humanos.
El-Adli é objeto paralelamente de outra investigação por ter ordenado tiros com balas reais contra os manifestantes durante a revolta popular.
Na audiência, um dos advogados dos demandantes, Ibrahim Basiuni, pediu autorização para a exibição na TV do processo, por considerar que o "povo tem o direito de ver este assassino no banco dos réus".
Mas o pedido não foi aceito e apenas um pequeno grupo de jornalista teve acesso à audiência.
Fora do tribunal, dezenas de pessoas gritavam frases como "o povo pede a execução do criminoso".
Vários ministros de Mubarak e empresários ligados ao antigo regime foram detidos e tiveram os bens congelados nos últimos dias. Alguns deles serão julgados nas próximas semanas.
A luta contra a corrupção é uma das principais exigências dos opositores que provocaram a queda de Mubarak, que também teve os bens, assim como os de sua família, bloqueados.