PARIS - A Semana de Moda de Paris começou nesta terça-feira (1;/3) dominada pelo escândalo protagonizado por John Galliano e à espera do anúncio da maison Christian Dior se mantém ou não o desfile criado pelo estilista britânico, depois de ter iniciado seu processo de demissão.
Na passarela da jovem estilista portuguesa Fatima Lopez, que abriu a Semana de Moda parisiense, o nome que mais se ouviu foi de Galliano, suspenso por Dior logo após sua prisão, na última quinta-feira, durante uma discussão em um bar parisiense com um casal, que acusou o estilista de "insultos antissemitas".
A sociedade Christian Dior Couture anunciou nesta terça-feira ter iniciado um procedimento para demitir o estilista, devido ao caráter "particularmente odioso" de seu comportamento e as declarações racistas contidas no vídeo.
"Viu o vídeo?", era uma das perguntas que se escutava na fila de espera para o desfile de Lopez, referindo-se ao pequeno vídeo difundido na segunda-feira na imprensa britânica, em que o estilista de 50 anos, visivelmente bêbado, diz "Amo Hitler".
"Depois disso, acho muito difícil que Dior mantenha Galliano" como seu diretor artístico, disse a jornalista e estilista espanhola, Tamara Martin, que tem um blog de moda.
"Gente como vocês estaria morta hoje. Suas mães, seus antepassados estariam todos mortos pelo gás", diz Galliano no vídeo, filmado no mesmo café do bairro turístico do Marais, no centro de Paris, onde aconteceu o incidente na quinta-feira passada, segundo o jornal britânico Sun.
Galliano negou as acusações, através de seu advogado, e vai processar o casal por difamação.
"Dior tem que cuidar de sua marca, mas provavelmente manterá seu desfile, por razões econômicas", disse uma compradora russa, lembrando dos milhões de dólares do custo de um desfile. "Mas como Galliano tem a propriedade intelectual do que criou para Dior, os advogados de ambos devem estar agora mesmo negociando duro", acrescentou.
"É triste o que aconteceu", disse nesta terça-feira em entrevista à AFP a estilista espanhola Amaya Arzuaga, que apresentará seu desfile outono-inverno na sexta-feira, no museu do Grand Palais. "Foi mostrado seu lado obscuro, feio. Mas o que é que não tenho dúvidas é de seu imenso talento", destacou Arzuaga.
Para Garpard Yurkievich, um dos estilistas que desfila há vários anos na Semana de Moda de Paris, o escândalo é a ponta do iceberg de um problema entre o estilista britânico, a maison Dior e LVMH, o grupo de luxo proprietário da marca.
"Acredito que há problemas que não sabemos entre Galliano, Dior e LVHM", disse Yurkievich, que apresentará sua coleção na sexta-feira.
Segundo ele, a Dior utilizou o escândalo como "desculpa" para demitir Galliano".
"Minha geração viu os desfiles mais incríveis de John Galliano, então conheço seu talento. Mas acredito que é muito difícil controlá-lo, e que os novos mercados não o entendem".
Yurkievich disse que não acredita que Galliano vai voltar à Dior. "Mas como é o grupo LVHM que financia a marca John Galliano, acho que (o estilista) está muito mal".
O que é certo no meio da moda é a quantidade de especulações, e que este escândalo protagonizado pelo "enfant terrible" da moda parisiense e a briga jurídica com a Dior ainda vão render muitas manchetes para a mídia no mundo inteiro.