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Conflitos armados impedem acesso de 28 milhões de crianças à educação

PARIS - A Unesco advertiu nesta terça-feira (1;/3) que os conflitos armados e as decisões na ajuda internacional "hipotecam" o futuro de 28 milhões de crianças em 35 países, entre eles Colômbia, e apontou os Estados Unidos como um dos que mais vinculam a ajuda à educação com estratégias militares.

"Os conflitos armados privam 28 milhões de crianças da possibilidade de se instruir e os expõem ao risco de serem vítimas de violações e outros abusos sexuais, enquanto que propiciam ataques contra escolas e atentados contra os direitos humanos", afirmou a Unesco em um relatório intitulado "Uma crise oculta: conflitos armados e educação".

"Das crianças do mundo em idade de ir à escola primária que estão sem se escolarizar, em torno de 42%, ou seja, 28 milhões, vivem em países pobres afetados pelos conflitos" armados, afirma a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco).

Entre 1999 e 2008, entre os 35 países que foram cenário de conflitos armados está a Colômbia, afirmou o documento.

Nesse país, os sistemas educativos "encontram-se no alvo" porque "os combatentes consideram legítimo lançar ataques contra escolas, alunos e prefeitos", afirma o documento divulgado em Paris e Nova York.

"Na Colômbia, os grupos armados tentam recrutar crianças para que combatam em suas filas ou trabalhem no narcotráfico. Com frequência, as escolas são cenário desses recrutamentos forçosos", afirmou.

A Colômbia é também "o segundo país do mundo com mais deslocados internos", situação que levanta "importantes obstáculos" para a educação, informou.

"Os adolescentes colombianos de 12 a 15 anos que ainda cursam o primário são duas vezes mais numerosos que os não deslocados da mesma idade", diz o documento.

A deficiente formação da juventude, a utilização incorreta dos sistemas educativos e a insuficiente atenção prestada à educação na consolidação da paz são três das "deficiências" no âmbito educativo que segundo o relatório "contribuem para fomentar" os conflitos.

O documento menciona também o caso de países que sofreram conflitos armados no passado como Guatemala, nos anos 1980, onde justamente "continua havendo índices elevados de violações e abusos sexuais".

O relatório "exige que se coloque fim à cultura da impunidade" que beneficia a violência de caráter sexual e que "se intensifique" a vigilância de atentados realizados contra direitos humanos.

"As crianças e os sistemas educativos não apenas se vêem envolvidos acidentalmente em um fogo cruzado (...) e sim que estejam se convertendo cada vez mais no alvo sistemático em conflitos armados", afirmou o diretor do relatório, Kevin Watkins.

A Unesco advertiu que "a ajuda dos doadores para a educação está se canalizando cada vez mais por meio de operações que guardam relação com as estratégias militares, o que apaga a linha divisória entre a ajuda e a segurança" e "prejudica a educação em vez de favorecê-la".

Assegura que "poucos doadores são tão explícitos como Estados Unidos ao apresentar a ajuda como parte de um esforço por suscitar lealdades políticas ;ganhando o coração e a mente; da população, em meio a uma estratégia contra a insurreição" canalizada através da denominada "estratégia das ;3D;".

Em relação à América Latina, o documento afirma que os países da região "investem uma proporção relativamente alta" de seus orçamentos em educação, exceto no Caribe, onde "as taxas de escolarização primária diminuem 10%".

Em torno de 2,9 milhões de crianças continuam sem estudar na região que conta igualmente com 36 milhões de adultos analfabetos, lembrou o relatório que teve apoio de quatro prêmios Nobel: o costarriquenho Oscar Arias, a iraniana Shririn Ebadi, o filipino José Ramos Horta e o sul-africano Desmond Tutu.