Benghazi - A oposição controla nesta segunda-feira (28/2) grandes partes da Líbia, incluindo os principais campos de petróleo, ao mesmo tempo em que o coronel Kadafi continua a se fazer de surdo à pressão internacional, minimizando a insurreição sangrenta que abala seu regime.
Neste 14; dia de uma revolta sem precedentes que se transformou em insurreição, Muamar Kadafi e suas forças militares controlam apenas Trípoli e sua região. Segundo o comissário europeu da Energia, Gunther Oettinger, os principais campos de petróleo líbios estão nas mãos dos rebeldes.
"Temos razão para acreditar que a maioria dos campos de exploração (de gás e petróleo) não estão mais nas mãos de Kadafi, mas sim sob controle de tribos e forças provisórias que tomaram o poder", disse.
Após a ONU e os Estados Unidos, a União Europeia aprovou nesta segunda-feira um embargo de armas contra a Líbia, bem como um congelamento dos bens e proibições de visto para o coronel Kadafi e 25 pessoas próximas a ele.
As medidas devem ser formalmente confirmadas durante o dia.
A comunidade internacional, com o Ocidente à frente, pensa ainda em aplicar uma interdição do espaço aéreo líbio, através de uma zona de exclusão aérea, para impedir bombardeios contra a população.
A Itália, que está bem posicionada, junto com a França, para colocar em prática essa proibição, disse que a medida seria "sem dúvida útil" e "evitaria os bombardeios (...) nas zonas subtraídas do controle do regime".
O primeiro-ministro francês, François Fillon, considerou que tal estratégia necessitaria, primeiro, de "uma decisão do Conselho de Segurança das Nações Unidas" e o envolvimento da Otan.
Depósitos de munição em zonas sob o controle da rebelião no leste da Líbia foram alvos, nesta segunda-feira, de ataques aéreos das forças do dirigente Muamar Kadafi, segundo fontes em Benghazi, a segunda maior cidade do país, a mil quilômetros a leste de Trípoli.
Ante a pressão crescente da comunidade internacional por sua saída, Kadafi, no poder há mais de 40 anos, mostra-se inflexível, criticando as sanções da ONU e garantindo que a Líbia estava "completamente calma".
O Ocidente se prepara para ajudar os opositores, que criaram um "Conselho Nacional Independente" encarregado de representar "as cidades libertadas".
Este órgão será "o rosto da Líbia durante o período de transição", declarou seu porta-voz Abdelhafez Ghoqa. A UE também informou estar em vias "de estabelecer contato" com as autoridades de transição líbias.
"Nós contamos com o exército para libertar Trípoli", acrescentou Ghoqa.
Do outro lado do país, a oposição reinvicava o controle de várias cidades ao redor da capital e no Oeste.
"Nos colocamos sob a autoridade do governo interino de Benghazi", informou um dignitário do comitê revolucionário que agora administra Nalout, a 230 km ao oeste de Trípoli, precisando que outras cidades da região estão "nas mãos do povo".
"Estamos preparando as tropas para marchar sobre Trípoli e libertar a capital do jugo de Kadafi", acrescentou o dignitário Chaban Abou Sitta.
Em Zawiyah, a 60 km ao oeste da capital, manifestantes anti-Kadhafi pareciam controlar a cidade.
As cidades estratégicas de Misrata, leste, e Gherien, sul, parecem também estar sob o controle da oposição.
Em Trípoli, postos de controle foram construídos dentro e fora da capital por militantes pró-Kadafi. Pão e gasolina foram racionados, segundo um morador.
A chefe da diplomacia americana, Hillary Clinton, pediu nesta segunda-feira que fossem preparadas "medidas suplementares para que o governo Kadafi comece a prestar contas, fornecendo ajuda humanitária e apoiando o povo líbio na busca por uma transição democrática".
Os Estados Unidos vão enviar duas equipes humanitárias às fronteiras com a Tunísia e o Egito, anunciou ela, ao mesmo tempo em que a Cruz Vermelha Internacional exigiu acesso imediato ao Oeste da Líbia.
A França vai mandar dois aviões a Benghazi com ajuda humanitária e o Programa Alimentar Mundial anunciou o envio de 80 toneladas de rações energéticas.
O chefe da ONU Ban Ki-moon mencionou, por sua vez, um balanço do conflito de mil mortos.
Quase cem mil pessoas, a maioria trabalhadores egípcios e tunisianos, já deixaram o país pelas fronteiras, segundo o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (HCR).