Bruxelas - Os países europeus se organizam para trazer de volta seus cidadãos na Líbia, ante a insurreição no país que ameaça se transformar em guerra civil, mas permanecem divididos entre partidários da firmeza e da prudência, em relação a Muammar Kadhafi.
"Estamos extremamente preocupados, coordenamos a evacuação eventual de cidadãos da União Europeia na Líbia, em particular de Benghazi", o centro da revolta, declarou nesta segunda-feira a ministra espanhola das Relações Exteriores, Trinidad Jimenez, paralelamente a uma reunião com representantes europeus em Bruxelas.
A Espanha recomendou à noite a seus cidadãos deixar o país e, aos que ficarem, evitar qualquer deslocamento. A partir de agora, a quase totalidade das 27 nações da UE desaconselham viagens à Líbia.
Vários países - Itália, Áustria, Portugal - anunciaram planos de retirada, com o envio de aviões militares para repatriá-los.
A Sérvia e a Croácia preparam também a evacuação, como fazem as empresas estrangeiras presentes na Líbia com seus empregados, em particular as companhias do setor de petróleo.
A Líbia está mergulhada na violência e o poder do coronel Kadhafi, na chefia do país há 42 anos, é contestado nas ruas como nunca. Segundo a ONG Human Rights Watch, 233 pessoas morreram até agora.
"Estudamos os meios de ajudar os franceses a partir, se a situação se impuser", declarou à noite o porta-voz do Ministério francês das Relações Exteriores, Bernard Valero. "Pedimos a todos manter contato permanente com a embaixada".
Os ministros europeus das Relações Exteriores também apresentaram em Bruxelas um programa de apoio à África do Norte para favorecer a transição democrática nestas nações. Projetos devem ser finalizados até março.
Numa forma de mea culpa, a UE pensa em rever sua política de ajuda aos países árabes, fazendo com que se torne muito mais dependente, no futuro, dos progressos democráticos realizados. E prometeu nesta segunda-feira um apoio "mais eficaz" às nações da margem sul do Mediterrâneo que realizarem reformas políticas e econômicas.
Após as revoluções na Tunísia e no Egito - onde a chefe da diplomacia europeia Catherine Ashton efetua uma visita nesta terça-feira - a Europa está confrontada à terceira grande revolta popular em suas portas contra um regime autoritário da margem meridional do Mediterrâneo.
O ministro alemão das Relações Exteriores, Werner Hoyer, falou de "um movimento tectônico" e exortou a UE a estar à altura.
A mensagem europeia, no entanto, está confrontada a divergências de pontos de vista.
A União Europeia "condenou" certamente, nesta segunda-feira, numa declaração comum a repressão a manifestações na Líbia e pediu o fim "imediato" da violência. O presidente da UE, Herman Van Rompuy, chegou se dizer "horrorizado".
Mas a linguagem é selecionada e ninguém ousou ainda pedir a partida do coronel Kadhafi.
A Itália, preocupada principalmente com o risco de ver imigrantes clandestinos afluírem da Líbia em direção ao litoral da ilha de Lampedusa, em caso de derrubada do regime do coronel Kadhafi, apelou a seus parceiros a não pressionarem Trípoli de forma excessiva.
"Não devemos dar a má impressão de que exportamos nossa democracia. Devemos ajudar e apoiar a reconciliação pacífica", destacou seu ministro das Relações Exteriores, Franco Frattini.