Dubai - A violenta repressão aos protestos que se propagam contra os longevos sistemas autoritários do Oriente Médio já deixaram pelo menos quatro mortos no Bahrein, quatro na Líbia e dois no Iêmen desde quarta-feira.
As rebeliões, que nos últimos dois meses derrubaram os presidentes da Tunísia, Zine El Abidine Ben Ali, e do Egito, Hosni Mubarak, estimularam as reivindicações nesta região do mundo, que sofre com a falta de democracia, a corrupção endêmica, o nepotismo e regimes incapazes de se renovarem.
A onda de contestação foi apoiada pelos Estados Unidos, que pediram aos líderes da região uma resposta positiva às demandas populares.
No Bahrein, quatro pessoas morreram na madrugada desta quinta-feira durante uma investida das forças de segurança contra manifestantes que tentavam passar a segunda noite consecutiva na Praça da Pérola, em Manama.
Além disso, o correspondente estrangeiro Miguel Marquez, da rede americana ABC, foi espancado por homens armados com cassetetes nesta quinta-feira, quando cobria as manifestações no Bahrein, informou a emissora.
Marquez foi surpreendido em meio à multidão que protestava na capital Manama, segundo a ABC.
O repórter, que falava no telefone com a matriz da emissora em Nova York, descrevendo a situação na cidade, foi atacado com cassetetes e pedaços de pau - mas felizmente não sofreu ferimentos graves.
"Não! Não! Não! Ei! Eu sou jornalista", gritava Marquez, tentando defender-se dos agressores, enquanto ainda estava ao telefone. "Estou indo! Estou indo! Estou indo! Estou indo... Estou ferido".
O correspondente contou que os agressores também arrancaram a câmera de suas mãos.
"Acabei de ser surrado feio, por um bando de capangas", disse Marquez, quando finalmente conseguiu ligar de novo para a ABC. "Estou agora em um mercado perto de nosso hotel, onde as pessoas estão se protegendo".
Na manhã desta quinta, o Exército mobilizou dezenas de tanques, que foram posicionados ao longo de uma avenida próxima à praça, onde se concentram os manifestantes.
O bloco xiita no Parlamento do Bahrein, que tem 18 deputados sobre um total de 40, pretende abandonar a Assembleia, informou nesta quinta-feira à AFP um deputado do movimento xiita Al-Wefaq.
O líder do Al-Wefaq, xeque Ali Salman, "vai anunciar a decisão do bloco de deixar a Assembleia", afirmou à AFP o deputado Ali al-Aswad.
O xeque Salman deve conceder uma entrevista coletiva ainda nesta quinta-feira.
O movimento Al-Wefaq suspendeu na terça-feira a participação na Assembleia, em reação à morte de dois manifestantes durante a repressão dos protestos antigovernamentais neste pequeno reino do Golfo, onde a população é de maioria xiita.
Ao todo, seis pessoas já morreram desde segunda-feira neste pequeno reino do Golfo de maioria xiita, governado pela dinastia sunita dos Al Khalifa.
O movimento de protesto, lançado por internautas e convocado através do Facebook, exige reformas políticas e sociais, a exemplo do que aconteceu na Tunísia e no Egito.
O apelo foi amplamente atendido pelos xiitas, que se consideram vítimas de discriminação no mercado de trabalho e no acesso aos serviços públicos. Líderes da oposição exigem do rei Hamad ben Isa al Khalifa, que subiu ao trono em 1999, a instauração de uma monarquia constitucional.
Na Líbia, governada há quase 42 anos com mão de ferro pelo coronel Muamar Kadhafi, pelo menos quatro pessoas perderam a vida na quarta-feira, vítimas dos confrontos entre as forças de segurança e os manifestantes, que protestam contra o regime em Al Baida, no leste, segundo sites da oposição e ONGs líbias com base no exterior.
"As forças de segurança interna e as milícias dos comitês revolucionários dispersaram a tiros uma manifestação pacífica de jovens na cidade de Al Baida", provocando "pelo menos quatro mortos e vários feridos", indicou em um comunicado a Libya Watch, uma organização de defesa dos direitos humanos, com sede em Londres.
No Facebook, multiplicam-se convocações para transformar esta quinta-feira em um "Dia da Ira" contra o regime de Kadhafi.
As manifestações começaram na madrugada de terça-feira em Benghazi (1.000 km a leste de Trípoli), sendo violentamente reprimidas pelas forças de segurança, que deixaram 38 feridos.
No Iêmen, na Península Arábica, aliado chave dos Estados Unidos no combate à rede islãmica Al-Qaeda, 12 pessoas ficaram feridas nesta quinta-feira em Sanaa, no quinto dia consecutivo de protestos, marcados pelos confrontos entre os manifestantes e defensores do presidente Ali Abdallah Saleh, no poder desde 1978.
Os cerca de 2.000 manifestantes, a maioria estudantes, foram atacados ao deixar o campus da Universidade de Sanaa por partidários do Congresso Popular Geral (CPG), armados com paus e pedras.
Na quarta-feira, os enfrentamentos entre as forças de segurança e os manifestantes deixaram dois mortos e dois feridos em Aden, no sul do país.
Os Estados Unidos lançaram um apelo aos países da região, com uma menção especial à Líbia, pedindo que proporcionem uma resposta positiva às demandas de seus povos.
"Os países da região têm o mesmo tipo de números em termos demográficos e de aspirações populares, além da necessidade de reformas", disse na quarta-feira o porta-voz do Departamento de Estado, Philip Crowley.
"Estimulamos estes países a tomar ações específicas que respondam às aspirações e às necessidades e as esperaças do povo. A Líbia certamente está nesta categoria", acrescentou.