SANAA - Partidários do regime do presidente Ali Abdullah Saleh invadiram nesta terça-feira um massivo protesto contra o governo iemenita em Sanaa, atirando pedras e paus em meio à multidão e provocando violentos confrontos, reprimidos pela polícia com a ajuda de ;tasers; (pistolas de descarga elétrica), segundo testemunhas.
Pelo menos três pessoas ficaram feridas na troca de pedras, que passaram a voar para todos os lados quando os manifestantes responderam à investida dos legalistas.
Inspirados pelas revoltas populares na Tunísia e no Egito, que conseguiram a derrubada de seus ditadores, os manifestantes organizaram uma passeata pelo quarto dia consecutivo, saindo do campus da Universidade de Sanaa em direção ao palácio presidencial, para exigir a saída de Saleh, há 32 anos no poder.
"O povo quer acabar com o regime", cantam os manifestantes, repetindo o slogan usado no Egito, onde o presidente Hosni Mubarak foi forçado a renunciar após 30 anos no poder e 18 dias de massivos protestos, que paralisaram o país.
À medida em que os manifestantes se aproximavam do palácio de Saleh, partidários do Congresso Geral do Povo (GPC, partido no poder) atacavam com paus e pedras.
Os legalistas tentaram atacar Ahmed Saif Hashed, um deputado oposicionista que participava do protesto, mas seus companheiros o protegeram, segundo testemunhas.
De acordo com relatos de manifestantes, "policiais com ;tasers;" se uniram aos legalistas pró-Saleh para dispersar a multidão.
Organizações de defesa dos direitos humanos condenaram a violência da polícia, principalmente o uso destas armas elétricas, usadas amplamente para conter os manifestantes, que protestavam pacificamente.
O ativista Hasehm al-Abara, que ajudou a convocar os protestos através do site de relacionamentos Facebook, afirmou que os manifestantes não se deixarão intimidar pela repressão policial ou pela violência dos defensores do regime.
"Continuaremos com as passeatas, e os ataques do partido governista contra nossa manifestação pacífica não vai nos impedir", declarou.
"Se o Egito resistiu por 18 dias, não importa para nós se precisaremos resistir por um, dois ou três meses".
As cenas desta terça já haviam ocorrido na segunda-feira, quando os policiais e legalistas investiram contra as manifestações - integradas principalmente por estudantes e profissionais liberais - no centro de Sanaa.
Também na cidade de Taez, a sul da capital, milhares protestaram e foram reprimidos pela polícia, com um saldo de oito pessoas feridas, segundo testemunhas.
A organização Repórteres Sem Fronteiras, por sua vez, condenou os ataques contra jornalistas que cobrem o turbilhão político no Iêmen.
"A RSF condena fortemente os ataques contra jornalistas que fazem a cobertura dos protestos de rua em Sanaa nos últimos dois dias, por parte de agentes de segurança, oficiais da polícia e policiais à paisana", indicou o grupo em um comunicado, publicado nesta terça.
A RSF também fez um apelo às "autoridades iemenitas para que permitam aos jornalistas realizarem seu trabalho sem medo de serem presos ou fisicamente atacados por membros das forças de segurança, cujo dever é protegê-los".
Na segunda-feira, o correspondente da BBC no Iêmen Abdullah Ghorab contou à AFP como foi surrado por "homens do partido governista".
O cinegrafista Mohammed Omran, que o acompanhava, também foi espancado e teve o telefone celular e o relógio roubados, segundo um comunicado da BBC.