Sanaa - Munidos com paus e pedras, manifestantes pró-democracia e simpatizantes do presidente do Iêmen, Ali Abdullah Saleh, entraram em confronto violento com a polícia no centro da capital do país nesta segunda-feira (14/2).
As cenas de violência se repetiram nas ruas de Taez, ao sul de Sanaa, onde milhares de pessoas se reuniram em protesto contra Saleh.
Na capital, cerca de três mil manifestantes participaram de uma marcha que saiu da Universidade de Sanaa rumo à praça Al-Tahrir, no centro da cidade, pedindo que Saleh, que esteve no poder por 32 anos, renuncie, disse um repórter da AFP.
Nas ruas da cidade no entorno da praça ouviam-se os cânticos "Depois de Mubarak, Ali", em alusão à pressão feita ao presidente egípcio, Hosni Mubarak, para deixar o poder depois de 18 dias de protestos em que centenas de milhares de egpípcios se reuniram na praça principal do Cairo, também de nome Tahrir.
Gritos de "Nada de corrupção depois de hoje" reverberaram pelas ruas, enquanto alguns manifestantes exibiam cartazes com os dizeres: "o povo quer derrubar o regime" - slogans usados por manifestantes no Egito.
À medida que os manifestantes se aproximavam da praça, a tropa de choque avançou, brandindo paus, dando início aos confrontos, afirmaram testemunhas.
Apesar do arame farpado erguido por forças de segurança no entorno da praça, os simpatizantes de Saleh que acamparam durante vários dias para se opor às manifestações anti-regime atacaram os manifestantes com paus, contaram as testemunhas.
Os manifestantes responderam atirando pedras nos simpatizantes de Saleh.
Testemunhas disseram que alguns manifestantes ficaram levemente feridos.
O jornalista da BBC Abdullah Ghorab, cujo rosto estava coberto da sangue, disse à AFP que foi atingido "por homens do partido da situação".
Alguns ativistas pró-Saleh exibiram retratos de seu presidente na direção dos manifestantes.
Nos confrontos de Taez, testemunhas disseram que pelo menos oito manifestantes ficaram feridos.
Sanaa tem sido cenário de protestos quase diários desde janeiro e na semana passada simpatizantes do presidente tomaram a praça Tahrir onde ergueram barracas.
A raiva e a corrupção galopante ajudaram a inflamar os protestos que levaram à derrocada dos presidentes de Tunísia e Egito, além de alimentar a ira no Iêmen.
Na segunda-feira, funcionários da Aden Port Corporation, no Golfo do Iêmen, invadiram os escritórios da companhia e tiraram dali seu presidente, Mohamed Bin Aefan, e outras autoridades, contaram os trabalhadores.
"Tivemos o bastante com autoridades corruptas e é hora de dizer a eles que vão embora", disse Ali Bin Yehya, autoridade da empresa que emprega cerca de 1.500 pessoas.
"O que aconteceu no Egito e na Tunísia motivou os trabalhadores a exigirem seus direitos", afirmou.
Em Sanaa, manifestantes têm se tornado violentos de forma progressiva, apesar de Saleh - eleito para um mandato de sete anos em setembro de 2006 - instar ao diálogo com vistas a forçar um governo de unidade nacional.
A oposição parlamentar, reunida em uma aliança conhecida como o Fórum Comum que anteriormente liderou os protestos, suspendeu sua participação após decidir iniciar conversações com o governo.
O Fórum Comum declarou no domingo que está "pronto para assinar um acordo marco esta semana para (retomar) o diálogo nacional". O partido de Saleh, o Congresso Geral do Povo (CGP), saudou o comunicado esta segunda-feira.
Sediada em Nova York, a ONG Human Rights Watch criticou esta segunda-feira o que chamou de uso da força pelo governo para dispersar os protestos.
"Sem provocação, forças de segurança do governo brutalmente agrediram manifestantes pacíficos nas ruas de Sanaa", disse Sarah Leah Whitson, diretor da HRW na região do Oriente Médio e do Norte da África.