Brasília ; A crise política que atinge pelo menos 12 países muçulmanos no Norte da África e no Oriente Médio causa protestos generalizados em algumas regiões e ações isoladas em outras. Mas, segundo especialistas, envolve um conjunto de fatores.
Para os estudiosos, há uma junção entre a comunicação no mundo globalizado e a insatisfação popular em decorrência do empobrecimento da sociedade, além da ausência de perspectivas, que culmina no chamado efeito dominó.
O professor doutor em Relações Internacionais e professor de história pela Universidade de Brasília (UnB) Carlos Eduardo Vidigal defende que há uma reação ao autoritarismo associada à velocidade das informações no mundo globalizado.
O embaixador do Brasil no Egito, Cesário Melantonio Neto, afirma ser impossível fazer prognósticos sobre os dias que virão. A seguir, uma síntese da crise política e dos protestos que tomam conta dos países do Norte da África e de parte do Oriente Médio.
Egito (Norte da África) ; Depois de quase três décadas no comando e 18 dias de protestos, o então presidente Hosni Mubarak renuncia. No lugar dele, assume uma junta militar que promete ficar apenas seis meses no poder, promover eleições, revogar a atual Constituição e dissolver o Congresso. Mas mantém a lei de emergência que dá plenos poderes ao governo.
Tunísia (Norte da África) ; Após 23 anos no governo, o então presidente Zine el-Abidine Bem deixa o poder e refugia-se na Arábia Saudita com a família. É acusado de corrupção e violação de direitos humanos. Um governo de transição assume e promete promover eleições. Houve protestos violentos nas principais cidades do país.
Marrocos (Norte da África) ; Ameaçado por manifestações, o rei Mohammed VI, que está há mais de dez anos no poder, adota medidas para evitar revoltas. Porém, nos últimos dias houve pequenos protestos em algumas cidades do país. Na família real há divisões, um dos primos do rei defende a abertura política e critica a gestão de Mohammed VI.
Jordânia (Oriente Médio) ; Há 12 anos no poder, o rei Abdullah II mudou a equipe de governo e anunciou reformas. Também adotou a austeridade econômica. A proximidade com a política do governo dos Estados Unidos e a ocidentalização do país, entre outras questões, são alvo de reações populares. Nos últimos dias, houve protestos na região.
Iêmen (Sudoeste Asiático) ; De regime parlamentarista, o presidente Ali Abdullah Saleh está no poder há mais de três décadas. Ele assumiu depois de um golpe militar. O mandato presidencial é de sete anos, mas a cada votação, Saleh tem sido reeleito. Nos últimos dias, houve uma série de protestos contra o governo.
Arábia Saudita (Oriente Médio) ; O rei Abdullah bin Abdel Aziz está no poder há cinco anos. A lei básica adotada em 1992 declarou que Arábia Saudita é uma monarquia absoluta islâmica governada pelos filhos e pelos netos do rei Abd Al Aziz Al Saud. Organizações não governamentais criticam o desrespeito por direitos humanos no país. Os protestos são isolados e levam à mutilação do corpo de manifestantes.
Iraque (Oriente Médio) ; No cargo há quatro anos, o primeiro-ministro Nuri Al Maliki enfrenta críticas e protestos internos. Com o regime parlamentaristas, o presidente Jalal Talabani não é lembrando pelos manifestantes. Depois da invasão norte-americana em 2003, o Iraque busca a estabilidade política e econômica.
Líbano (Ásia Ocidental) ; Em clima de permanente tensão, o país saiu de uma guerra em 2007. Mal assumiu o poder em janeiro de 2011, o primeiro-ministro Najib Mikati enfrenta resistência internas e externas por suas ligações com o grupo Hezbollah. Antes dele, estava no cargo Saad Hariri. Os manifestantes reagem à nomeação de Mikati por acreditar que o Hezbollah exercerá o poder.
Síria (Sudoeste Asiático) ; Houve manifestações em apoio aos protestos no Egito, mas por enquanto não há referências diretas à gestão do presidente Bashar al-Assad, que está no poder há quase 11 anos, depois de um referendo popular. Ele assumiu o governo com a morte do pai Hafez al-Assad, que foi eleito presidente para cinco mandatos consecutivos.
Líbia (Norte da África) ; Considerada a mais longa ditadura que há no mundo, o presidente Muammar al-Khadafi está no poder há 41 anos. O clima de tensão é constante no país. A partir de 1970, foram expulsos da Líbia os militares estrangeiros e decretada a nacionalização das empresas, dos bancos e dos recursos petrolíferos do país. Há reações isoladas ao governo.
Argélia (Norte da África) - No poder há mais de uma década, o presidente Abdelaziz Bouteflika é acusado de comandar o país de forma autoritária e não democrática. Cultos religiosos não islâmicos são limitados, assim como a ação da imprensa é alvo de proibições. Como no Egito, o governo decretou lei de emergência obtendo amplos poderes, mas promete revogar. Protestos têm ocorrido.
Mauritânia (Noroeste da África) ; O presidente Mohamed Ould Abdel Aziz governa com o apoio de uma junta militar, depois que houve um golpe em 2008. O clima no país é tenso em decorrência da disputa por poder das tribos existentes na região. As manifestações são repletas de imolações ; que é o ato de atear fogo em si em protesto político, é uma prática antiga comum a alguns segmentos religiosos.