CAIRO - O presidente egípcio, Hosni Mubarak, anunciou nesta terça-feira a criação de uma comissão para reformar a Constituição, em um novo passo para tentar apaziguar os grandes protestos que sacodem o país.
Mas os organizadores das manifestações tentam manter viva a mobilização e milhares de pessoas estavam reunidas na Praça Tahrir do Cairo, centro nervoso da rebelião, com o objetivo de obter a renúncia de Mubarak.
Milhares de pessoas voltaram a dormir na praça, muitas delas próximas dos tanques mobilizados no local.
Uma enorme faixa com a frase "O povo exige o fim do regime" ainda é vista na Praça Tahrir.
Mas Mubarak, 82 anos, há três décadas no poder, se limitou a reestruturar o gabinete e oferecer algumas reformas, descartando a renúncia antes da eleição presidencial de setembro, à qual prometeu não ser candidato.
"Mubarak assinou um decreto presidencial com o qual criou uma comissão que terá por missão apresentar emendas à Constituição", anunciou nesta terça-feira o vice-presidente Omar Suleiman.
As emendas da Carta Magna estão relacionadas com o número de candidaturas à presidência e ao mandato do chefe de Estado.
Na segunda-feira, o presidente egípcio prometeu um aumento de 15% dos salários dos funcionários públicos.
Também ordenou uma investigação sobre os confrontos entre seus partidários e os manifestantes, que na quarta-feira e quinta-feira da semana passada deixaram 11 mortos quase 1.000 feridos na praça, de acordo com números oficiais.
O balanço de 15 dias de protestos em todo o país chega a pelo menos 300 mortos e milhares de feridos, segundo dados provisórios da ONU.
Suleiman se reuniu no fim de semana com representantes da oposição, com o objetivo de romper o isolamento do regime e de permitir que Mubarak conclua o mandato.
Mas os organizadores dos protestos tentam evitar que as medidas - assim como o retorno a uma certa normalidade em um país que havia entrado em colapso com os protestos e a repressão - acabem por desgastar o movimento.
A internet se transformou em uma força mobilizadora. O "Movimento 6 de Abril" convocou em seu site grandes manifestações para esta terça-feira.
"Ninguém pode nos impedir de continuar, por nosso país", afirma uma nota do grupo.
Os aliados ocidentais do Egito tentam obter garantias de uma transição pacífica no país árabe de maior população (80 milhões de habitantes), onde a principal força opositora organizada é a Irmandade Muçulmana.
O governo dos Estados Unidos pediu na segunda-feira que qualquer novo governo egípcio respeite os tratados e compromissos atuais, ao mesmo tempo em que saudou os "progressos" obtidos no início das negociações entre o regime e a oposição.
"Os Estados Unidos serão sócios de um governo egípcio que respeite os tratados e compromissos atuais", declarou o porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs.
O Egito é um dos únicos países árabes - o outro é a Jordânia - a ter assinado um tratado de paz com Israel.