Cairo - O presidente egípcio, Hosni Mubarak, tentou ganhar tempo frente aos protestos de rua contra seu regime, prometendo nesta segunda-feira (7/2) aumentar o salário dos funcionários públicos em 15%.
O ditador de 82 anos reuniu-se pela primeira vez com seu novo gabinete, enquanto o regime luta para fazer a economia mover-se novamente, apesar dos protestos por parte de ativistas pró-democracia que ocupam a principal praça do Cairo, no centro da cidade.
De acordo com a agência de notícias Mena, o gabinete aprovou um plano para aumentar o salário do setor público em 15% a partir de abril e gastar mais de 940 milhões de dólares em aumentos nas aposentadorias.
O aumento poderá reafirmar o apoio dos partidários de Mubarak ao regime, como membros da grande burocracia estatal e das forças de segurança, mas não havia sinais de que os manifestantes que já completam duas semanas na praça Tahrir cederiam.
Manifestantes sentaram em frente a tanques do exército nos arredores da praça, temendo que quaisquer movimentos dos militares poderiam ter como objetivo expulsá-los da praça.
Os ativistas também aumentaram as pressões fechando o acesso a Mugamma, o coração da burocracia egípcia, apesar de dezenas de pessoas tentarem ter acesso ao local para obter documentos como passaportes.
Em meio à tensão, manifestantes detiveram um homem que levava uma garrafa de gasolina nas mãos, na tentativa de colocar fogo no edifício, temendo serem apontados como culpados, e entregaram o homem às tropas que controlavam o acesso à praça.
Em outras medidas do governo para reavivar a vida econômica, o toque de recolher em três cidades, incluindo o Cairo, foi diminuído para o período das 20h00 às 06h00 locais, e a bolsa de valores informou no domingo que reabriria dia 13 de fevereiro.
A bolsa do Cairo fechou com queda de 10 pontos em 27 de janeiro, depois de 12 bilhões de dólares em ações terem sido vendidos em dois dias.
Mubarak reuniu-se em seu gabinete com o vice-presidente Omar Suleiman, com o porta-voz do Parlamento, Fathi Surur, e o presidente da corte de apelação egípcia, Sari Siyam, informou a agência de notícias Mena.
No domingo, Suleiman - possível sucessor de Mubarak - tentou amainar a revolta convidando diversos grupos de oposição para ajudá-lo nas "reformas democráticas".
Mas os manifestantes não desistiram e mantiveram a vigília.
Grupos de oposição, incluindo a poderosa Irmandade Muçulmana, repetiram seu pedido para que Mubarak renuncie ou delegue imediatamente seus poderes a Suleiman.
Houve pouco alívio por parte dos líderes do Ocidente, onde Mubarak já foi forte aliado e defensor da estabilidade no Oriente Médio.
O presidente americano, Barack Obama, afirmou que o Egito mudou "para sempre" desde o início das revoltas populares, em 25 de janeiro, e pediu um "governo representativo" no Cairo, apesar de não ter demandado a retirada imediata de Mubarak do poder.
O governo informou que os partidos concordaram em formar um comitê em março para examinar emendas constituicionais, enquanto seriam analisadas as reclamações sobre o tratamento dado a prisioneiros políticos e afrouxar o controle sobre a mídia.
Uma estrita lei de emergência poderá ser levantada "dependendo da situação de segurança", informou o governo.
Mas Suleiman rejeitou a principal demanda da oposição, afirmando que não assumiria o cargo de Mubarak durante a transição.
Nem todos os movimentos de oposição envolvidos na revolta contra Mubarak estavam presentes nas conversas. O dissidente e ex-presidente da agência nuclear da ONU Mohamed ElBaradei não foi convidado, e criticou as conversas.
A Irmandade Muçulmana, ainda banida oficialmente, informou ter concordado em participar dos encontros porque pretendia determinar se o governo estava sério em relação à reforma, mas avisou que as concessões iniciais eram insuficientes.
Enquanto Mubarak afirmou estar "cheio" do poder, disse que precisa ficar no governo até as eleições presidenciais de setembro para garantir a estabilidade - mas as frustrações dos manifestantes estão agora encontrando eco no exterior.
O chanceler da Espanha afirmou que as eleições precisam ser levadas adiante, mas a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, disse que uma eleição antecipada traria complicações caso não haja organização entre os grupos de oposição.
Mas isso não teve impacto na praça Tahrir, onde os manifestantes mantiveram as demandas para a saída imediata de Mubarak, não acreditando nas intenções do ditador de deixar o poder depois de três décadas.