CAIRO - O poderoso movimento de oposição Irmandade Muçulmana, até então proibido pelo governo, participou neste domingo de um diálogo inédito com as autoridades, mas considerou insuficientes as reformas propostas. Ao mesmo tempo, prosseguia pelo 13; dia as manifestações contra o regime, na praça Tahrir, onde milhares de manifestantes exigem a partida do presidente Hosni Mubarak, no poder desde 1981.
Grupos de jovens chegaram a formar uma coalizão para assegurar que não vão arredar pé da praça enquanto o presidente permanecer no cargo.
Como parte dos esforços destinados a pôr um ponto final na crise política, o poder e a Irmandade Muçulmana - principal força da oposição oficialmente proibida - encontraram-se pela primeira vez em meio século para um diálogo, na presença de outros grupos da oposição.
Os participantes deste "diálogo nacional" concordaram em estabelecer uma "transição pacífica do poder tendo como base a Constituição", informou o porta-voz do governo, Magdi Radi, em comunicado, após o encontro.
Mas a Irmandade Muçulmana denunciou, em seguida, a insuficiência das reformas propostas.
"O comunicado não é o bastante", declarou Mohamed Mursi, da liderança da Irmandade, durante entrevista à imprensa. Segundo ele, "as demandas são sempre as mesmas. Ele (o governo) não respondeu à maioria delas, apenas a algumas, e de forma superficial", precisou Essam al-Aryane, um outro líder.
Houve consenso "sobre a formação de um comitê que contará com o poder judiciário e um certo número de personalidades políticas, para estudar e propor as emendas constitucionais e legislativas que se fizerem necessárias antes da primeira semana de março", anunciou o porta-voz do governo, Magdi Radi.
O comunicado lido propõe a abertura de um escritório destinado a receber queixas relativas a presos políticos, estabelecer o levantamento das restrições impostas aos meios de comunicação e a rejeição a "qualquer intromissão externa nos assuntos egípcios".
O texto pede, também, o levantamento do estado de emergência "de acordo com a situação da segurança.
O estado de emergência em vigor no Egito foi decretado após o assassinato do presidente Anwar el-Sadat em 1981 por islamitas, sendo constantemente recomposto.
O diálogo aberto neste domingo reúne representantes da Irmandade Muçulmana, do Partido Wafd (liberal) e do Tagammou (esquerda), que fazem parte de um comitê escolhido por grupos defensores da democracia.
Domingo de manhã, na praça Tahrir, ainda cercada pelos tanques, cristãos e muçulmanos rezaram juntos.
Na capital, que possui 20 milhões de habitantes, a vida estava sendo retomada lentamente, com numeros estabelecimentos comerciais e bancos abrindo suas portas, e com a normalização do trânsito em ruas e pontes.
A secretária de Estado americana Hillary Clinton expressou um apoio prudente ao diálogo entre o poder e a Irmandade Muçulmana, preferindo "aguardar um pouco para julgar".
O oponente egípcio e prêmio Nobel da paz Mohamed ElBaradei, afirmou por sua vez não ter sido convidado ao diálogo, qualificando as discussões de "opacas", em entrevista ao canal americano NBC.