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Primeiro-ministro do Iraque promete não se candidatar a terceiro mandato

O primeiro-ministro iraquiano, Nuri al-Maliki, declarou neste sábado (5/2) que não será candidato a um terceiro mandato, e estimou que é "talvez intolerável" para o povo egípcio que seu presidente esteja há três décadas no poder.

"A Constituição não proíbe um terceiro, nem um quarto ou quinto mandato, mas eu decidi, e isto desde o princípio, não ir além do meu mandato atual", afirmou em entrevista à AFP.

"Espero modificar a Constituição para fixar um limite de dois mandatos ao primeiro-ministro", acrescentou Maliki, cujo segundo governo foi empossado pelo Parlamento em dezembro, mais de nove meses após as eleições legislativas. Maliki formou seu primeiro governo em maio de 2006.

"Dois mandatos, oito anos, são suficientes para um primeiro-ministro, se tem um programa, se é eficaz e coopera com o Parlamento", acrescentou.

"Com toda a humildade, durante meu primeiro mandato eu estive em condições de enfrentar o sigilo, a Al-Qaeda e o deterioramento das condições de segurança", disse.

"Durante este mandato, me concentrei nos serviços e na reconstrução", acrescentou, citando em particular os contratos petroleiros "que salvarão a economia iraquiana" e as obras no setor da eletricidade. "Terminarei os projetos empreendidos para que o meu sucessor encontre atuações sólidas e uma economia melhor".

Quando perguntado sobre suas intenções no fim do mandato atual, Maliki afirmou que deve seguir an política porque seu país "precisa ser reconstruído".

No Iraque, atualmente, o único limite de número de mandatos, dois de quatro anos, ocorre no cargo de presidente da República.

Por outro lado, Maliki considerou justificadas as reivindicações dos manifestantes no Egito. "Não há verdadeira democracia na região com exceção do Iraque, e uma das formas de não democracia é que um homem possa permanecer no poder por 30 ou 40 anos", declarou o primeiro-ministro iraquiano, de 60 anos e que passou mais de 20 anos no exílio.

"É talvez intolerável para o povo, e as mudanças são necessárias (...) Ao permanecer tanto tempo no poder, (Mubarak) dá a entender que não confia em ninguém a não ser em si mesmo, e isso acarreta a rejeição da população", estimou.

Maliki manifestou o desejo de que "o povo egípcio consiga instaurar a democracia". "(O Povo) tem direito de expressão sem ser perseguido", acrescentou.

Al-Maliki estimou que a ditadura de Saddam Hussein em seu país não pode ser comparada a nenhuma outra. "As manifestações teriam terminado no primeiro dia, porque ele teria atacado os manifestantes com armas químicas, como já fez".

Finalmente, o primeiro-ministro iraquiano explicou a decisão, anunciada na véspera, de reduzir seu salário à metade "a partir de fevereiro", revelando pela primeira vez que ganhava 35 milhões de dinares mensais (cerca de 30 mil dólares).

"Os salários muito altos podem criar agitação na sociedade e levar à criação de duas classes, uma rica e outra desfavorecida", disse.