Uma mulher usando um véu destruía um farol com uma pedra para alertar sobre a presença de suspeitos em uma das ruas laterais da praça Tahrir, e imediatamente centenas de jovens apareceram para repelir a paus um possível contra-ataque dos partidários do presidente Hosni Mubarak.
Era um alarme falso: um grupo de militares interveio imediatamente para tranquilizar os manifestantes, fazendo sinais de calma com as mãos, e impedindo que chegassem até um pequeno grupo de pessoas que era visto ao longe, comprovou um jornalista da AFP.
Cenas semelhantes ocorreram durante toda a quinta-feira em Tahrir, refletindo não apenas o nervosismo dos manifestantes um dia depois da batalha campal contra os partidários de Mubarak, mas também a estrita organização que estabeleceram depois de expulsar seus adversários da praça durante a noite.
"Não tenho a menor dúvida de que vamos vencer. E mais: já vencemos porque os expulsamos da praça a chutes", afirmou Besim, 28 anos, que reconheceu ter abandonado Tahrir depois do discurso de Mubarak na terça-feira (1;), quando anunciou que não se apresentaria nas eleições de setembro.
"Mas voltei quando vi o que ocorreu ontem, por meus irmãos", completou.
Nesta quinta-feira (3/2), os opositores tinham tomado conta da praça, depois de confrontos a pedradas durante cerca de 15 horas contra milhares de homens de Mubarak, que irromperam brutalmente em Tahrir, onde os opositores exigem a renúncia do presidente há dez dias.
Os manifestantes assumiram eles mesmos o controle dos acessos, ao montar suas próprias barricadas a 50 metros dos tanques, em um evidente ato de desconfiança em relação aos militares que vigiavam a região desde o fim de semana e que não impediram na quarta-feira a entrada dos militantes pró-Mubarak.
As barricadas foram feitas com todo o material encontrado na praça: restos de veículos queimados e chapas de ferro.
Atrás delas, estão "as munições", como disse um egípcio: montes de pedras preparadas para responder a um ataque inimigo.
Na praça, o ambiente era de companheirismo. Jovens mulheres de véu distribuíam comida e água que outros traziam para abastecer as milhares de pessoas atrincheradas na praça, onde normalmente reina o caos do trânsito da capital egípcia.
"Aqui há todo tipo de egípcios: comunistas, liberais, islamitas. Estamos todos unidos", comemorou Khaled, 23 anos, um empregado do setor turístico em Sharm el Sheik e que levava uma venda na cabeça após uma pedrada na véspera.
Centenas de pessoas mostravam ferimentos da batalha, como Yaser, 20 anos, que afirma que uma pedra quebrou seu braço, sem aquebrantar sua determinação. "Fico aqui até que Mubarak saia", assegurou.
Mas também havia muita desconfiança e medo dos policiais e homens de Mubarak infiltrados.
Uma pessoa identificada como suposto membro dos serviços de segurança foi retirada brutalmente pela multidão. Alguns manifestantes batiam com todos os meios a seu alcance, desde paus a garrafas de plástico, mas outros o protegiam, como Kamal, um médico que exerce a profissão nos Estados Unidos.
"Não temos que bater em ninguém. Somos pacíficos e os pacíficos não dão socos", afirmou, depois que os militares recuperaram o suposto agente infiltrado.