SANAA - Inspirados pelos protestos populares na Tunísia e no Egito, milhares de iemenitas tomaram as ruas de Sanaa nesta quinta-feira (27/1) para exigir a renúncia do presidente Ali Abdalah Saleh, no poder há 32 anos.
O presidente tunisiano "foi embora depois de 20 anos. E 30 anos no Iêmen já bastam", gritavam os manifestantes, convocados pela oposição, que organizou passeatas em diversos pontos da capital. Zine el Abidine Ben Ali, que permaneceu 23 anos no poder na Tunísia e acabou derrubado pela rebelião.
A "Revolução de Jasmim" tunisiana gerou um efeito dominó no mundo árabe, a começar pelo Egito, onde esta semana milhares de manifestantes participaram de protestos para pedir a renúncia do presidente Hosni Mubarak, há mais de 30 anos no poder.
Mas Motahar Rashad al Masri, ministro do Interior iemenita, descartou qualquer semelhança entre a situação dos três países.
"O Iêmen não é como a Tunísia, é um país democrático", afirmou, destacando que os protestos de Sanaa são pacíficos.
Os manifestantes, entretanto, parecem ter outra abordagem de seu próprio movimento, e exigem uma mudança de regime.
"Não a uma extensão do mandato (de Saleh)", dizem os líderes da oposição que coordenam os protestos. "A hora da mudança chegou", respondem os manifestantes.
"Estamos aqui para exigir a partida do presidente Saleh e de seu governo corrupto", disse o deputado Abdemalik Al Qasus, do partido islamita Al Islah.
As maiores passeatas foram convocadas em quatro pontos distantes de Sanaa, com o objetivo de dispersar as forças de segurança, de acordo com um dos organizadores.
Os batalhões de choque das forças de segurança se mantinham à distância, mas convocaram reforços para proteger os prédios onde funcionam o ministério do Interior e o Banco Central.
O Congresso Popular Geral (CPG, partido no poder) também organizou quatro manifestações de apoio ao governo, que reuniram milhares de militantes.
"Não derrubem a democracia e a Constituição", diz um dos cartazes levados pelos partidários de Saleh.
Os protestos se multiplicaram nos últimos dias no Iêmen, um dos países mais pobres da Península Arábica.
Para tentar conter a revolta popular, o governo anunciou esta semana aumentos salariais para vários setores. Para o analista Mustafah Nasr, que falou à AFP em Sanaa, a intenção é "prevenir problemas semelhantes aos da Tunísia".
O Movimento Sulista (separatista) também organizou manifestações em várias cidades do país, como Daleh, Habilayn, Loder e Ezzan, sob o slogan "Revolução, revolução no Sul" e "Antes morrer livres que aceitar a ocupação".
Saleh, que está no poder desde 1978, revalidou seu mandato em uma eleição organizada em 1999, e foi reeleito em 2006 para mais sete anos, até 2013.
O parlamento, no entanto, discute um projeto de emenda constitucional que pode abrir caminho para uma presidência vitalícia para Saleh.
Segundo a oposição, o presidente de 68 anos pretende transmitir o poder a seu filho, Ahmad, atual chefe da Guarda Republicana, um corpo de elite do exército.
Saleh rejeitou estas acusações na noite do último domingo, em um pronunciamento televisionado.
"Somos uma República, e sou contra a transmissão (hereditária) do poder", proclamou.