Beirute - O candidato do poderoso movimento Hezbollah, o multimilionário sunita Najib Mikati, foi encarregado nesta terça-feira (25/1) de formar o futuro gabinete do Líbano, uma nomeação criticada por seu adversário, Saad Hariri, cujos partidários se manifestaram, aos milhares, às vezes violentamente, em várias cidades.
A nomeação segue-se à queda do governo Hariri pela demissão, em 12 de janeiro, dos ministros do bloco do Hezbollah.
Eles são hostis à investigação do Tribunal Especial para o Líbano (TSL), encarregado de julgar os responsáveis pelo assassinato do ex-primeiro-ministro e pai de Saad, Rafic Hariri.
A nomeação de Mikati permite ao Hezbollah xiita armado controlar o governo, um poder que pertencia, antes, à coalizão de Hariri, desde as legislativas de 2009.
Apoiado por Damasco e Teerã, mas considerado um grupo terrorista por Washington, o Hezbollah prevê ser denunciado pelo TSL e tentou, sem sucesso, fazer com que Saad Hariri desaprovasse este tribunal.
Najib Mikati, de 55 anos, magnata das telecomunicações e cuja fortuna chega a 2,5 bilhões de dólares, deverá enfrentar o delicado problema do TSL.
O Hezbollah quer que o governo cesse toda cooperação com o TSL, suspendendo o financiamento libanês e retirando os juízes libaneses.
Esta nomeação "não é mais que uma vitória de um campo sobre o outro. É a vitória da reconciliação (...)", disse Mikati, depois de se reunir com o presidente Michel Suleiman, que promulgou o decreto de nomeação.
O líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, chamou o bloco de Hariri a participar do gabinete que será formado pelo novo premier, Mikati.
"Os libaneses têm uma verdadeira possibilidade de se unir na base de ;nem vencedores, nem vencidos;", declarou em discurso transmitido em telão perante milhares de partidários em Baalbeck (leste).
"O próximo governo não será o do Hezbollah, nem será conduzido pelo Hezbollah (...) Não queremos nem o poder, nem o governo", assegurou Nasrallah.
O campo de Hariri afirmou desde já que boicotará todo gabinete chefiado por um candidato do movimento xiita.
O anúncio desta nomeação foi antecedida de manifestações convocadas por partidários de Hariri, acusando o Hezbollah de "golpe de Estado".
Em Trípoli, a grande cidade do norte e reduto sunita, onde as escolas e as lojas ficaram fechadas, uma multidão enfurecida atacou e incendiou um veículo de transmissão da rede de televisão Al Jazeera, do Qatar, considerada simpatizante do Hezbollah.
Em Sidon e Beirute, os partidários de Hariri queimaram pneus e latas de lixo, bloqueando as estradas.
Mikati, que mantém boas relações com a Síria, ex-potência de tutela no Líbano, obteve o apoio de 68 deputados de um total de 128. O cargo de primeiro-ministro está reservado por tradição à comunidade sunita no Líbano.
Um premier apoiado pelo partido xiita faz o Ocidente temer a formação de um governo apoiado pelo Irã, e os Estados Unidos ameaçaram contra o efeito que um poder maior do Hezbollah pode ter sobre a ajuda americana ao Líbano.
A França expressou, por sua vez, "preocupação com a estabilidade" do Líbano através do ministério das Relações Exteriores.
A crise política projeta o espectro das violências de crença, de maio de 2008, quando os combates entre sunitas e xiitas deixaram uma centena de mortos e levaram o país, uma vez mais, à beira da guerra civil.