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Documentos revelam propostas de concessões ousadas ao Estado judeu

A já abalada estrutura palestina sofreu mais um golpe com a divulgação, pela rede Al-Jazeera, de documentos que mostram ofertas de concessões a Israel muito mais amplas do que se imaginava, incluindo a intenção dos negociadores palestinos de ceder o território de Jerusalém ocupado por judeus a Israel. Após a publicação dos detalhes da oferta, que teria sido feita em 2008, o grupo radical Hamas, que governa a Faixa de Gaza, acusou a Autoridade Palestina (AP) ; responsável pelas negociações com Israel ; de tentar ;liquidar a causa palestina;.

O presidente da AP, Mahmud Abbas, e autoridades da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), no entanto, negaram que tenham oferecido tais concessões e sugeriram que a Al-Jazeera está inserida em um complô para desestabilizar o lado palestino. Em Ramalah, na Cisjordânia, um grupo de palestinos chegou a invadir o escritório da rede de televisão em protesto contra a divulgação dos documentos. Em sua conta no microblog Twitter, o correspondente da emissora Alan Fisher divulgou que ninguém ficou ferido antes de a Polícia palestina chegar ao local.

;Nós dizemos muito claramente: não temos segredos. O que se pretende é uma confusão. Eu vi mostrarem as coisas (os documentos) como se fossem palestinas, mas são israelenses... Isso é, portanto, intencional;, disse Abbas, após um encontro com o presidente egípcio, Hosni Mubarak, no Cairo. O principal negociador palestino, Saeb Erakat, por sua vez, disse que as informações foram divulgadas ;fora do contexto;, além de terem sido publicadas algumas mentiras. ;Vamos examinar os documentos divulgados para revelar a verdade e, se for necessário, publicar todos os documentos do departamento responsável pelas negociações. Nós o faremos;, prometeu.

O negociador, inclusive, questionou a motivação da rede do Catar para expor de tal forma o lado palestino. ;Por que a Al-Jazeera divulga esses documentos quando enfrentamos Israel, Estados Unidos, o Conselho de Segurança (da ONU), o governo de direita de (Benjamin) Netanyahu?;, questionou. Segundo Yasser Abed Rabbo, outro negociador palestino, parte dos documentos teria sido roubada por um funcionário do departamento de negociações da OLP, mas que ainda não teve a identidade descoberta.

Nada disso parece convencer o Hamas, que acusou a Autoridade Palestina, inclusive, de ;cooperar; com Israel. ;Esses documentos secretos são graves e mostram a face odiosa da Autoridade Palestina e seu envolvimento nas tentativas de liquidar a causa palestina, principalmente na questão de Jerusalém e de seus refugiados;, afirmou, em um comunicado, o porta-voz do Hamas em Gaza, Sami Abu Zouhri. O representante denuncia ainda o envolvimento de Abbas na ;luta contra a resistência na Cisjordânia e na Faixa de Gaza; e sugeriu a cooperação da AP na guerra contra Gaza, em dezembro de 2008 ; já que esse acordo sobre Jerusalém teria sido ofertado em junho daquele ano.

Peso israelense

Do lado israelense, a divulgação dos 1,7 mil documentos confidenciais ; que incluem e-mails, minutas de encontros privados e até apresentações de Power Point entre 1999 e 2010 ; também causou alvoroço. A possibilidade de que os palestinos tenham oferecido trocar as áreas ocupadas por assentamentos judeus por outros territórios de Israel e aceitado dividir a Cidade Velha e os locais sagrados cria um grande embaraço para as autoridades israelenses: a não aceitação da proposta evidenciaria falta de vontade do lado judeu para chegar a um acordo de paz. A líder da oposição, Tzipi Livni, que era ministra de Relações Exteriores de Israel em 2008, afirmou ontem que isso mostra que há espaço de negociação com os palestinos. ;Hoje, é claro que o processo não falhou e não está esgotado;, disse.

Os documentos da rede Al-Jazeera não tiveram sua origem identificada, mas o jornal britânico The Guardian, que também tem publicado documentos sobre a questão, tem como fonte telegramas originados nas embaixadas americanas de Telavive e Jerusalém.

PERU RECONHECE A PALESTINA
; O governo do Peru é o sexto a reconhecer oficialmente o Estado palestino na América do Sul, nos últimos dois meses. O anúncio foi feito pelo chanceler peruano, José Antonio García Belaúnde. ;Hoje (ontem), o governo comunicou ao embaixador da Palestina em Lima o reconhecimento que faz do Estado Palestino um Estado livre e soberano;, disse Belaúnde. ;Desde 1947, o Peru tem sustentado nas Nações Unidas que devem existir o Estado de Israel, com fronteiras seguras, e o Estado Palestino;, acrescentou. Desde dezembro, Brasil, Argentina, Bolívia, Equador e Chile decidiram reconhecer o Estado palestino, de acordo com as fronteiras de 1967. Mais de 100 países já fizeram o mesmo desde a Declaração de Independência adotada pelo Conselho Nacional Palestino, em novembro de 1988, em Argel.