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Al-Jazeera revela documentos sobre negociações israelense-palestinas

DUBAI - O canal de notícias árabe Al-Jazeera começou a revelar centenas de "documentos confidenciais" relativos às negociações de paz israelense-palestinas, os primeiros que abordam principalmente o destino de Jerusalém.

Apresentados de forma sensacionalista na noite de domingo, os documentos constituem, segundo a Al-Jazeera "o mais importante vazamento de informações da história do conflito israelense-palestino".

Entrevistado pelo canal, o chefe dos negociadores palestinos, Saeb Erakat, disse que a direção palestina não tinha "nada a esconder", e que a maioria dos documentos publicados pela Al-Jazeera eram "um monte de mentiras".

Os documentos se referem em particular a "reuniões de coordenação de segurança" entre Israel e os palestinos, e às propostas formuladas pela Autoridade Palestina "sobre Jerusalém e o destino dos refugiados".

Os documentos contêm principalmente atas dos encontros entre os dois lados. A Al-Jazeera divulgou trechos que mostram, segundo a emissora, que os negociadores palestinos estão dispostos a fazer concessões importantes aos israelenses.

Erakat, por exemplo, é citado dizendo à ex-chanceler israelense Tzipi Livni: "Não é nenhum segredo que propusemos a maior Yerushalayim (Jerusalém em hebraico) da história".

Outros documentos indicam, segundo a Al-Jazeera, que os negociadores palestinos estavam dispostos a renunciar ao "bairro judeu" e a parte do bairro armênio da Cidade Antiga de Jerusalém.

Erakat também é acusado de ter oferecido, de acordo com o canal árabe, concessões sem precedentes a respeito da Esplanada das Mesquitas na Cidade Antiga de Jerusalém, sugerindo "uma solução inovadora" para o controle do local após um eventual acordo de paz.

O ex-chefe dos negociadores palestinos Ahmad Qurei afirma por sua vez em um dos documentos que os israelenses poderiam manter "todas as colônias em Jerusalém, com exceção de Abu Ghneim", chamada de Har Homa pelos israelenses, cuja construção foi um duro golpe para as negociações.

Qurei também é citado em outro documento pedindo a Livni, em 2008, que "reforce o bloqueio israelense imposto a Gaza".

Sobre os refugiados palestinos - quase cinco milhões, segundo seus descendentes, cujo destino é um dos pontos nevrálgicos das negociações -, Erakat teria dito estar disposto, sempre de acordo com os documentos da Al-Jazeera, a "aceitar a devolução de 10.000 deles por ano durante 10 anos, num total de 100.000".

Outro documento revela que o presidente palestino, Mahmud Abbas, foi informado por um alto funcionário do ministério israelense da Defesa, Amos Gilad, sobre "a intenção de Israel de lançar uma ofensiva em Gaza" no final de 2008.

"Eu disse mais de uma vez, nós não renunciamos às nossas posições. Se tivéssemos efetivamente renunciado aos refugiados e feito tais concessões, por que Israel não teria aceitado assinar o acordo de paz?", indagou Erakat.

Gilad, por sua vez, desmentiu nesta segunda-feira que tenha avisado a Autoridade Palestina em 2008 sobre a ofensiva contra o Hamas em Gaza.

O documento exposto pela Al-Jazeera "é um exemplo de inexatidão. Nenhuma advertência concreta em relação a uma ofensiva foi transmitida à Autoridade Palestina", declarou à rádio pública o general da reserva, que trabalha como diretor de assuntos político-militares do ministério da Defesa.

Ainda no domingo, os Estados Unidos indicaram que continuarão em busca de uma solução de dois Estados para resolver o conflito israelense-palestino, apesar da revelação dos documentos pela Al-Jazeera.

"O governo dos Estados Unidos revisou os supostos documentos palestinos publicados pela Al-Jazeera. Não podemos defender sua veracidade", disse o porta-voz do departamento de Estado, Philip Crowley, no Twitter.

"Os Estados Unidos continuam focados em alcançar uma solução de dois Estados, e seguirão trabalhando com as duas partes para aproximar as diferenças nos temas centrais", acrescentou.

Os documentos, "mais de 1.600" ao todo, começaram a ser divulgados às 20H00 GMT (18H00 de Brasília) de domingo nos canais da Al-Jazeera, cuja sede fica no Qatar.

Um site dedicado especialmente às "revelações" também foi lançado na noite de domingo pela Al-Jazeera.

As conversações de paz diretas sobre o Oriente Médio foram interrompidas pouco depois de retomadas em setembro de 2010, devido à negativa israelense de ampliar o prazo de uma moratória sobre a construção de novas colônias na Cisjordânia e em Jerusalém.