A comissão especial criada por Israel para investigar as circunstâncias do ataque à frota que levava ajuda à Faixa de Gaza, ocorrido em 31 de maio do ano passado, concluiu que a ação transcorreu dentro das normas do direito internacional, isentando o governo de ter praticado delitos. De acordo com o relatório divulgado ontem, o bloqueio marítimo feito por Israel na região é legal e, por isso, as Forças Armadas podiam interceptar navios e proteger a área. O uso da força durante a inspeção do navio turco Mavi Marmara deixou nove turcos mortos. O resultado do inquérito foi criticado pelo governo da Turquia e pelo grupo islamita Hamas.
O relatório da Comissão Turkel vai integrar a defesa de Israel na investigação que vem sendo realizada pela Organização das Nações Unidas. De acordo com o documento de 300 páginas, a inspeção do navio da frota humanitária feita pela Marinha israelense não feriu as normas internacionais. A comissão composta por seis membros ; dois deles observadores internacionais ; examinou os aspectos jurídicos da ação e inocentou Israel por unanimidade. ;A imposição de um bloqueio marítimo à Faixa de Gaza, levando em consideração as razões de segurança e os esforços de Israel para cumprir com suas obrigações humanitárias, era legal e de acordo com o direito internacional;, sustenta o relatório da comissão dirigida por Yaacov Tirkel, juiz aposentado da Suprema Corte israelense.
O gabinete do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, celebrou as conclusões da comissão que, segundo o governo, provam que o uso da força por Israel se justificava ;enquanto ato de autodefesa;. Israel não se manifestou sobre as mortes dos nove ativistas turcos, porém a comissão de investigação expressou tristeza pelas ;lamentáveis consequências em perdas de vidas humanas e feridos;. O grupo de investigação israelense verificou apenas a conformidade entre o direito internacional da captura e o embargo marítimo.
Crise
O resultado da avaliação da comissão foi questionado pelo primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan. ;Como pode ser que um relatório preparado e ordenado no mesmo país (Israel) possa ter algum valor? Vamos acompanhar este caso: este informe não tem nenhum crédito;, disse o premiê à imprensa turca. A morte de nove turcos durante a operação provocou uma grande crise nas relações entre Israel e Turquia, além de ter gerado uma onda de críticas internacionais.
Uma comissão de investigação foi organizada pela Turquia em resposta à criação do grupo israelense. Os investigadores turcos declaram-se ;estupefatos e consternados; diante das conclusões que isentaram os militares israelenses das mortes dos ativistas. ;O ataque praticado por Israel tem violação do direito em tempo de paz ou de guerra está também em contradição com todos os princípios, regras e normas internacionais;, afirmou em declaração a comissão reunida em Ancara, segundo a agência de notícias Anatolia.
O Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas (ONU) declarou, em setembro, que apoiaria um informe que pudesse reunir a existência de provas para ;sustentar um processo; contra Israel depois do ataque à ajuda humanitária. O relatório israelense foi condenado pelo movimento islamita Hamas, que controla a Faixa de Gaza desde 2007. ;Este relatório confirma a ausência de justiça na entidade sionista (Israel). É uma tentativa desesperada de legitimar os crimes da ocupação de melhorar sua imagem ao ocultar este crime; declarou Fawzi Barhum, porta-voz do grupo.
Revelações
; Documentos confidenciais sobre as negociações de paz entre israelenses e palestinos começaram a ser divulgados na noite de ontem pela emissora de TV árabe Al Jazeera e pelo jornal britânico The Guardian. Entre os segredos revelados, estão as conversas de 2008 entre negociadores palestinos, que teriam concordado em aceitar a soberania de Israel em grande parte dos assentamentos judeus construídos ilegalmente em Jerusalém, exceto o de Har Homa. Os papéis incluem atas de reunião e memorandos internos que devem ser revelados ao longo das
próximas semanas.