LONDRES - O ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair fez nesta sexta-feira um novo exercício de autojustificativa em seu primeiro comparecimento em um ano à comissão que investiga a participação da Grã-Bretanha na guerra do Iraque, ao lado dos Estados Unidos, em 2003.
O presidente da comissão, John Chilcot, enviou por escrito mais de 100 perguntas complementares antes da sessão, que tinha como objetivo, segundo o parlamentar, "esclarecer" as declarações feitas até agora por Tony Blair.
Na metade do interrogatório, exibido ao vivo pelos canais de televisão, o tom pareceu menos inquisitivo e as respostas menos abrasivas que na polêmica sessão de 29 de janeiro de 2010.
Mas o premier trabalhista (1997-2007) não mudou a linha de argumentação, convencido como sempre da propriedade de sua decisão de entrar em guerra, e não apresentou elementos novos.
Especialmente porque Blair se negou - contra a opinião de Sir Chilcot - a autorizar a publicação de sua correspondência privada com o ex-presidente americano George W. Bush, relativa ao período no qual os dois governantes teriam decidido por uma "mudança de regime" no Iraque durante uma reunião no rancho texano de Bush, em abril de 2002, 11 meses antes da invasão.
Como em janeiro de 2010, os debates desta sexta-feira giraram em torno de três perguntas chaves: a guerra era legal sem uma resolução explícita da ONU? Blair manipulou deliberadamente a opinião pública sobre a presença nunca comprovada de armas de destruição em massa (ADM) iraquianas, que justificaram a entrada na guerra? Qual foi a realidade da aliança de Blair (apelidado então de ;poodle de Bush; pelos detratores) com os neoconservadores americanos?
No ano passado, Blair afirmou que não se arrependia de ter envolvido o Reino Unido em uma guerra contra "o monstro Saddam Hussein", uma "decisão justa" que ele disse que voltaria a tomar.
"O regime de Saddam era brutal, era uma ditadura militar repressiva. Constituía uma fonte de instabilidade e de perigo para a região", afirmou nesta sexta-feira.
Mas a guerra era legal? O principal conselheiro jurídico do governo, Peter Goldsmith, que esta semana reiterou o "incômodo" com a falta de uma resolução da ONU, uniu-se por fim aos defensores da invasão, garantiu Tony Blair.
"Caso contráio, a Grã-Bretanha não poderia e não teria participado na decisão de derrubar Saddam", disse.
Sobre a razão para não divulgar sua correspondência com o ex-presidente americano, Blair afirmou que "as notas ao presidente Bush eram privadas".
"Foram redigidas quando queria obter uma mudança ou um ajuste político. São confidenciais", explicou Blair.
"E estas notas coincidem essencialmente com as declarações que expressei em público".
Interrogado pelas declarações que são atribuídas a ele, o carismático ex-premier negou ter afirmado ou escrito "George, seja qual for sua decisão, eu o acompanharei".
O ex-advogado e brilhante orador entrou em 2010 por uma porta lateral para não enfrentar os manifestantes e os jornalistas.
Desta vez, no entanto, entrou pela porta principal e até posou por alguns segundos para os fotógrafos, enquanto 20 manifestantes gritavam "Bliar", um jogo de palavras entre "liar" (mentiroso em inglês) e seu sobrenome.
Um dos manifestantes, Peter Brierley, que perdeu o filho no Iraque, pediu que o ex-premier seja julgado como "criminoso de guerra".