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EUA e China devem discutir as relações bilaterais e questões internacionais

O presidente da China, Hu Jintao, desembarcou em Washignton ontem para um encontro histórico com Barack Obama. Estados Unidos e China devem discutir as relações bilaterais e questões internacionais, como o programa nuclear da Coreia do Norte. Os dois gigantes da economia devem traçar planos mais ousados para melhorar a cooperação mútua na próxima década. Está prevista a assinatura de acordos de mais de US$ 500 milhões. Além disso, é a chance de os dois países ampliarem a diplomacia e o papel de mediadores no cenário mundial.

China e Estados Unidos divergem sobre temas econômicos, geopolíticos e relacionados aos direitos humanos. Apesar de manterem relações estáveis nos últimos anos, os dois países disputam a hegemonia mundial. A grande mudança e o avanço das relações dependem do governo americano, que deve adotar uma postura de igualdade em relação aos chineses. ;A relação entre os dois países é ampla, o que falta discutir é a maneira como os Estados Unidos veem a China. É preciso incorporá-la como igual e não como um país menor, isso vai refletir na nova relação diplomática;, afirma Cristina Pecequilo, especialista em política externa americana e professora de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

A postura de Barack Obama vai determinar a cooperação entre dois países nos próximos 10 anos. Se o governo americano continuar a pressionar a política interna da China não devem existir maiores avanços nas relações bilaterais. ;A grande questão é: será que os Estados Unidos serão capazes de manter esse diálogo de forma tranquila? A questão política sempre entra no caminho;, explica Cristina. Na semana passada, a secretária de Estado, Hillary Clinton, declarou que os direitos humanos seguirão, no entanto, como um dos eixos da diplomacia americana. Episódios, como a prisão do chinês Liu Xiaobo, ganhador do prêmio Nobel da Paz no ano passado, são criticados pelo governo americano.

Um dos assuntos que não deve fugir da pauta durante a visita de quatro dias de Hu é a crise entre as Coreias do Norte e do Sul. Os Estados Unidos devem pedir a ajuda da China para servir como moderador na região. ;Ambos temos muito mais a ganhar com a cooperação do que com o conflito;, advertiu Hillary Clinton. Ontem, o presidente chinês foi homenageado em um jantar privado. Hoje, deve receber honras militares, participar de uma reunião no Salão Oval e, por fim, de um jantar de Estado na Casa Branca, o terceiro oferecido por Obama em dois anos de presidência.

Em meio a uma crise econômica e com a necessidade de maiores negócios é possível que o governo americano seja mais flexível. ;A economia pesa bastante, os Estados Unidos estão cada vez mais dependentes da China e Obama está tendo a mesma dificuldade do governo anterior para deslanchar uma melhora nesse aspecto;, diz a especialista. Os investimentos americanos na China chegam a US$ 60,5 bilhões até 2010, enquanto os das empresas chinesas nos EUA totalizaram US$ 4,4 bilhões.

Em artigo publicado na imprensa americana ontem, Hu criticou a forma como o governo dos EUA manteve o câmbio depois da crise. ;A política monetária dos Estados Unidos tem grande impacto mundial e no fluxo de capital, pelo que a liquidez do dólar americano deveria ser mantido num nível estável e razoável;, disse. A Casa Branca, por sua vez, pediu que a China tomasse mais medidas para permitir a valorização do iuan. ;Nós acreditamos que é preciso que se faça mais. Essa é uma opinião de muitos países ao redor do mundo;, afirmou o porta-voz Robert Gibbs. O governo chinês chegou a apontar o desejo de flexibilizar a cotação da moeda.