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Primeiro-ministro tunisiano anuncia novo governo de união nacional

Túnis - O primeiro-ministro da Tunísia, Mohammed Ghannouchi, anunciou nesta segunda-feira (17/1), em Túnis, a formação de um "governo de união nacional", marcado pela entrada de três líderes da oposição ao regime do ex-presidente Zine El Abidine Ben Ali, mas no qual a antiga equipe conserva postos importantes.

Numa declaração transmitida pela televisão nacional, o ministro do Interior, Ahmed Friaa, anunciou que o tumulto que abalou o país durante um mês custou três bilhões de dinares (1,6 bilhão de euros).

"As eleições serão realizadas em seis meses o mais tardar", declarou o primeiro-ministro tunisiano Mohammed Ghannouchi, pouco depois de anunciar a formação do novo gabinete, encarregado de administrar a transição até as próximas eleições.

"A Constituição prevê eleições em 45 a 60 dias (...), prazo, no entanto, insuficiente" para as reformas necessárias à organização, acrescentou.

Mohammed Ghannouchi anunciou nesta segunda-feira a inclusão no governo de três líderes da oposição e oito ministros da equipe anterior.

Ghannouchi também afirmou que todos os partidos políticos que o solicitarem serão legalizados. "Os partidos políticos e as organizações que pedirem serão reconhecidos de imediato", disse ele, citando uma série de medidas de abertura democrática para o país como a "liberdade total de informação", a libertação de todos os presos políticos e a autorização de funcionamento das organizações de defesa dos direitos humanos.

O partido islamita Ennahda e o Partido Comunista dos Operários da Tunísia (PCOT) figuram entre os proibidos até agora.

O novo executivo foi formado três dias após a queda do regime de Ben Ali, após um mês de revolta popular, a "revolução do jasmim", que fez 78 mortos e 94 feridos no total.

O número oficial precedente, anunciado em 11 de janeiro, antes da mudança de poder, era de 21 mortos.

A maior parte das vítimas perdeu a vida durante a feroz repressão policial à revolta popular que começou a ganhar as ruas em meados de dezembro, no centro-oeste deserdado do país. A polícia atirava com munição real contra os manifestantes.

Em pronunciamento na televisão pública, o ministro tunisiano do Interior afirmou nesta segunda-feira que "vários" membros das forças de segurança estavam entre as vítimas.

Mas não precisou se os últimos morreram durante choques com manifestantes, ou se caíram vítimas das balas das milícias leais ao ex-homem forte do país, que fugiu na sexta-feira para a Arábia Saudita.

Entre os 24 ministros e ministras do novo gabinete estão três líderes de partidos políticos da antiga oposição ao regime do presidente Ben Ali: Ahmed Néjib Chebbi, chefe histórico do Partido Democrático Progressista (PDP), Ahmed Ibrahim, chefe do movimento Ettajdid (Renascença, ex-comunista) e Mustapha Ben Jaafar que dirige a Frente Democrática para o Trabalho e as Liberdades (FDTL).

Além do primeiro-ministro, foram reconduzidos sete membros do antigo regime, entre eles, o Ministro do Interior, Ahmed Friaa, o da Defesa, Ridha Grira; das Relações Exterioress, Kamel Morjane, e das Finanças, Ridha Chalghoum.

Um dos blogueiros presos durante a "revolução de jasmim" na Tunísia, Slim Amamou, também faz parte do governo de unidade nacional e de transição anunciado nesta segunda-feira, como a cineasta Moufida Tlatli, nomeada para o ministério da Cultura.

Em Paris, o opositor histórico Moncef Marzouki denunciou o novo governo como uma farsa, criticando a "falsa abertura".

Antes, centenas de pessoas manifestaram-se na capital e na província para pedir a exclusão do novo governo de políticos ligados ao antigo regime e ao partido, Rassemblement constitutionnel démocratique (RCD), União constitucional democrática, entre eles Ghannouchi.