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Hassan Nasrallah, secretário-geral do Hezbollah, fala sobre o caso Hariri

Beirute e Líbano pararam das 20h30 às 21h35 de ontem (das 16h30 às 17h35, em Brasília). Entre as pessoas com os olhos fixos na TV, estava Doja Daoud, uma estudante de rádio e TV de 19 anos. Na tela, o xeque Hassan Nasrallah ; fundador e secretário-geral do movimento fundamentalista islâmico Hezbollah ; prometeu se defender de qualquer acusação sobre o assassinato do ex-premiê Rafiq Hariri. ;Quando ele diz uma palavra, ele cumpre;, afirmou ao Correio Doja, pela internet.

As palavras de Nasrallah foram duras e dirigidas ao Tribunal Especial para o Líbano (STL, pela sigla em inglês). A Corte criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) deve receber hoje as atas de acusação do procurador Daniel Bellemare. Segundo o jornal francês Le Monde, os documentos incriminam o Hezbollah. ;Não permitiremos que nossa reputação e nossa dignidade sejam manchadas nem permitiremos que ninguém conspire contra nós ou nos ensope injustamente com o sangue de Hariri;, afirmou Nasrallah. ;Vamos agir para defender nossa dignidade, nossa existência e nossa reputação.;

Segundo Doja, o xeque Nasrallah também garantiu ter pistas de que Hariri não desejava o bem para o Líbano. ;Precisamos esperar para amanhã (hoje) as discussões no Parlamento. Mas o Hezbollah não é um grupo terrorista, suas armas são apenas para lutar contra Israel;, opina a estudante. O pronunciamento do líder espiritual do movimento ocorre quatro dias depois que o governo de união nacional libanês erodiu, com a demissão de ministros do próprio Hezbollah. O libanês Nadim Shehadi ; analista do Instituto Real de Assuntos Internacionais da Chattam House (em Londres) ; considera normal a reação de Nasrallah. ;Foi algo similar ao que os sérvios fizeram quando o Tribunal Internacional para a Ex-Iugoslávia foi montado;, lembra, em entrevista ao Correio por e-mail. ;O STL é parte de um sistema de justiça criminal relativamente novo. Por causa do envolvimento do Conselho de Segurança da ONU, aquelas pessoas que se sentem alvejadas geralmente acusam o processo de ser politizado;, acrescenta Shehadi.

O especialista libanês alerta que há a preocupação de o indiciamento de integrantes do Hezbollah estimular um levante. ;Há sempre um dilema entre Justiça e paz associado a tais tribunais. Alguns creem que o sistema atrapalha a reconciliação entre os partidos, ao objetivar punir culpados, ao passo que as negociações podem atingir uma solução;, explica Shehadi.