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Primeiro-ministro fecha nomes para transição na Tunísia nesta segunda

A composição do novo governo tunisiano será anunciada hoje, três dias depois que o ex-presidente Zine El Abidine Ben Ali abandonou o país. Ontem, no Palácio de Cartago, o primeiro-ministro Mohammed Ghannouchi consultou representantes de partidos políticos e da sociedade civil para começar o processo de transição, após a queda do regime de Ben Ali, que ficou no poder por 23 anos. As consultas tiveram como objetivo levar à implementação de três comitês: um encarregado de nomear pessoas para formar um governo de união nacional, outro para examinar os abusos cometidos pelas forças de segurança, e o último para investigar as acusações de corrupção. Todos os partidos legais, representados no Parlamento ou não, foram convidados a se encontrar com Ghannouchi, com exceção do Partido Comunista dos Trabalhadores da Tunísia (PCOT), de Hamma Hammami, que está banido, e dos islâmicos do Ennahdha.

;Foi decidido, de uma maneira consensual, separar os partidos pró-governamentais. O novo governo será integrado por representantes do Movimento Ettajdid, do Partido Democrático Progressista (PDP), da Frente Democrática para o Trabalho e Liberdades (FDLT), assim como por personalidades independentes;, informou Maya Zribi, secretária-geral do PDP, partido opositor, que participou dos encontros no palácio. As outras duas organizações também faziam parte da oposição legal a Ben Ali. ;As próximas eleições serão supervisionadas por um comitê independente e por observadores internacionais;, destacou Maya Jribi.

Calma relativa

Depois de dois dias marcados por tiroteios, saques e vandalismo, os tunisianos passaram um domingo relativamente tranquilo, a ponto de o governo reduzir em uma hora o toque de recolher em todo o país. Uma das medidas tomadas para frear a onda de violência foi a prisão, ontem, do ex-chefe de segurança de Ben Ali, o general Ali Sériati. Ele foi formalmente acusado de responsabilidade pelos abusos dos últimos dias contra a população. Várias testemunhas atribuíram os atos violentos, principalmente na capital, Túnis, e arredores, a membros das tropas de segurança ligadas ao presidente deposto, que procuravam criar o caos.

Uma fonte oficial, que preferiu não ser identificada, informou à agência de notícias TAP que Sériati, homem-chave do antigo regime, estava por trás das milícias responsáveis pelas desordens recentes na capital e em outras cidades do país. A gota d;água para a prisão do general teriam sido os tiroteios da madrugada, cujo alvo foi uma academia de polícia nas cercanias de Túnis. Com tiros de revólver e metralhadora, além de coquetéis Molotov, membros da guarda presidencial lideraram o ataque. Em contrapartida, os policiais atiraram, dando início ao confronto, que durou cerca de uma hora. Os rebeldes fugiram em picapes, rumo à Floresta de Gammarth, e não foram capturados. Disparos, primeiro esporádicos e depois mais intensos, foram ouvidos durante horas na capital. Dois franco-atiradores escondidos nos prédios foram mortos. À tarde, o Exército tunisiano invadiu o Palácio de Cartago, no qual se encontram entrincheirados homens da guarda presidencial de Ben Ali. Um morador da região informou à agência France-Presse sobre tiros nas proximidades do palácio e contou que os militares estabeleceram um perímetro de segurança em torno do edifício.

Vítimas da guerra

O fotógrafo francês da agência EPA Luca Mebrouk Dolega, de 32 anos, morreu ontem em Túnis, depois de ter sido gravemente ferido na sexta-feira por uma granada de gás lacrimogêneo atirada pela polícia. Mebrouk chegou a ser operado, mas não resistiu. Ele é o primeiro jornalista morto na cobertura da crise política.