Túnis - O ex-chefe da segurança do presidente tunisiano deposto Ben Ali, o general Ali Sériati, foi preso neste domingo após ter sido formalmente acusado de responsabilidade pelos abusos dos últimos dias contra a população.
Um fonte oficial, que preferiu não ser identificada, informou à agência TAP ter ficado estabelecido que este homem-chave do antigo regime estava por trás das milícias responsáveis pelas desordens recentes na capital e outras cidades do país.
Várias testemunhas atribuíram os saques e atos violentos dos últimos dias, principalmente em Túnis e arredores, a membros das tropas de segurança ligadas a Ben Ali, que procuravam criar o caos. O ex-presidente, no entanto, não aguentando a pressão do povo, fugiu na sexta-feira para a Arábia Saudita.
Paralelamente, a agência TAP reportou no início da tarde uma melhora da segurança com uma redução do toque de recolher em todo o país das 18h00 às 05h00 locais, contra 18h00 às 06h00 de anteriormente.
[SAIBAMAIS]Apesar da noite de sexta-feira para sábado ter sido marcada por atos de vandalismo e saques, a capital tunisiana acordou hoje em meio à calma. Comitês de vigilância organizaram rondas nos bairros.
"Não temos medo: os homens protegem nossos bairros dos milicianos armados que estão lá para aterrorizar. Me sinto seguro", testemunhou Mouna Ouerghi, 29 anos, professor universitário.
Em Túnis, o dispositivo de segurança, bloqueando a avenida Bourguiba no centro, foi um pouco suavizado com a retirada das barreiras erguidas na véspera através das ruas e com uma presença policial mais discreta.
Pela manhã, as vias principais estavam praticamente desertas e o exército estava posicionado em locais estratégicos, em particular no aeroporto internacional de Cartago, em frente ao Banco da Tunísia e à sede da União Constitucional Democrática (Rassemblement constitutionnel démocratique - RCD), partido do ex-presidente.
No Palácio do governo, o primeiro-ministro tunisiano Mohammed Ghannouchi fazia consultas neste domingo a representantes de partidos políticos e da sociedade civil para começar o processo de transição após a queda do regime de Ben Ali.
Essas consultas devem levar à implementação de três comitês: um encarregado de nomear pessoas para formar um governo de união nacional, um outro para examinar os abusos cometidos pelas forças de segurança e o último para investigar as acusações de corrupção do antigo regime.
Todos os partidos considerados legais, representados no Parlamento ou não, estão convidados a se encontrar com Ghannouchi, com exceção do Partido Comunista dos Trabalhadores da Tunísia (PCOT) de Hamma Hammami que está banido e dos islâmicos do Ennahdha.
Ao lado disto, cerca de 1.500 manifestantes fizeram uma passeata na manhã deste domingo para reivindicar uma verdadeira mudança.
De acordo com o estado de urgência decretado no país na sexta-feira, as reuniões de mais de três pessoas são proibidas.
Em Túnis, poucos cafés reabriram as portas. No mercado central, podia-se ver barracas de frutas e legumes, mas as pessoas se queixavam dos preços altos. Sessenta pessoas se acotovelavam diante da única padaria aberta, mas isso não estragava o bom humor geral.
"Nossos filhos vão viver num país livre", dizia uma freguesa.
Na manhã deste domingo em Túnis, foi anunciada a morte do fotógrafo francês da agência EPA, Luca Mebrouk Dolega, de 32 anos, após ter sido gravemente ferido na sexta-feira por granada de gás lacrimogêneo atirada pela polícia, informou à AFP um funcionário da embaixada francesa na capital tunisiana.