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Massacre no Arizona pode ser oportunidade política para Obama

Washington - O presidente Barack Obama enfrentará nesta quarta-feira (12/1) um momento de elevado risco político ao participar da cerimônia em memória das vítimas do ataque no Arizona, mas pode aproveitar a oportunidade para obter o apoio da população. Na ocasião, Obama fará um discurso dirigido às vítimas da tragédia e para tranquilizar a comunidade política, após um jovem abrir fogo contra a representante democrata Gabrielle Giffords em Tucson, matando seis pessoas e ferindo 14, inclusive a deputada, gravemente.

Os disparos foram executados por Jared Loughner, 22 anos, ao que parece um jovem desequilibrado. Nos momentos de crise, os presidentes americanos costumam recorrer à unidade nacional, como fez George W. Bush no discurso na Catedral Nacional, após os atentados de 11 de setembro de 2001. Tais discursos são "uma maneira de assimilar a tragédia e de manter a tranquilidade, mas também servem como ferramenta para unir o país e avançar de modo unido", destacou Jamie McKown, professor de ciências políticas do College of the Atlantic (Maine).

Alguns democratas atribuem o ataque ao clima de ódio conservador que tomou corpo entre os seguidores de políticos como a ex-candidata republicana à presidência Sarah Palin, mas Obama não deve fazer acusações e "concentrará seus comentários em memória das vítimas", indicou na véspera a Casa Branca. O título da cerimônia na Universidade do Arizona: "Crescemos juntos: Tucson e Estados Unidos", dá uma clara indicação sobre a vontade de se apaziguar os ânimos.

"O presidente acredita que neste momento o mais importante é dirigir nossos pensamentos e orações aos atingidos e garantir nossa união como país", declarou Nicholas Shapiro, porta-voz da Casa Branca. O discurso que o presidente Abraham Lincoln fez após a batalha de Gettysburg (Pensilvânia), em 1863, lamentando os mortos e mostrando o caminho aos vivos, permanece como principal referência aos líderes americanos.

Após o atentado de 1995 em Oklahoma City (168 mortos), Bill Clinton prometeu justiça, mas também destacou a necessidade de união diante da adversidade. Na ocasião, vários analistas perceberam que Clinton recuperou parte de seu prestígio na presidência, após o baque sofrido com a derrota nas legislativas do outono (boreal). No ano seguinte, foi reeleito de forma triunfal.

Obama, cujo partido também foi derrotado nas últimas eleições legislativas, pode aproveitar a oportunidade para recuperar seu prestígio em declínio. Em declarações após a tragédia de Tucson, Obama buscou estabelecer um vínculo direto de empatia com seus compatriotas afirmando: "Todos sentimos pena e estamos em estado de choque". "Como presidente dos Estados Unidos, mas também como pai, passo muito tempo pensando nas famílias" das vítimas. Entre os mortos no ataque há uma menina de 9 anos, a idade da filha mais nova do presidente.