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EUA não deixarão Afeganistão em 2014 se afegãos não quiserem

Cabul - Os Estados Unidos estão dispostos a permanecer no Afeganistão depois de 2014, data prevista para a transferência de responsabilidade pela segurança do país para as forças nacionais, se Cabul assim solicitar, disse nesta terça-feira o vice-presidente americano Joe Biden, que visita a capital afegã, em coletiva junto com o presidente Hamid Karzai.

Há atualmente 97.000 soldados americanos no Afeganistão, que devem começar a voltar para casa em julho deste ano, de acordo com os planos da Casa Branca, e transferirão a responsabilidade pela segurança aos afegãos em 2014. Biden, no entanto, declarou que as forças americanas poderão ficar, se os afegãos não estiverem prontos para assumir a defesa.

"Não iremos embora se vocês não quiserem", afirmou o vice-presidente, que está há dois dias no Afeganistão. O secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, assegurou em novembro passado que as tropas internacionais continuarão apoiando o exército afegão depois da transferência de poder.

Mas vários países europeus, nos quais a opinião pública vê com maus olhos o violento conflito que já dura nove anos, anunciaram sua intenção de retirar suas tropas do país nos próximos anos. "Não temos a intenção de governar (o Afeganistão) ou construir uma nação, pois isso é responsabilidade do povo afegão", enfatizou o vice americano, cujo país fornece mais de dois terços das forças internacionais posicionadas no país.

"Nossa estratégia e nossos meios estão aqui para cumprir um objetivo, o de um Afeganistão estável, florescente e independente, capaz de garantir sua própria segurança", afirmou ainda. Os Estados Unidos anunciaram em 6 de janeiro o envio de 1.400 marines suplementares no sul do país para consolidar os progressos já realizados, segundo Biden, nas recentes ofensivas do sul, um dos redutos dos rebeldes talibãs.


O avanço dos talibãs nessas zonas foi interrompido, assegurou. "Mas esses êxitos são frágeis e reversíveis e os afegãos deverão melhorar sua segurança e sua governabilidade se quiserem conservá-los", acrescentou.

Biden e Karzai se encontraram frente a frente durante cerca de duas horas no palácio presidencial de Cabul. "Discutimos sobre o processo de transição em 2014", declarou, por sua vez, o presidente afegão, que se disse muito contente com o encontro.

Os jornalistas presentes não foram autorizados a fazer perguntas, oficialmente por razões de agenda do vice-presidente. Na noite de segunda-feira, um membro da equipe de Biden indicou à imprensa que esta visita acontece num momento de "verdadeira mudança" na política americana no Afeganistão. "Passamos do envio de reforços no ano passado à transmissão das responsabilidades aos afegãos, que começará este ano", destacou.

A viagem de Biden ao Afeganistão é a primeira desde a chegada ao poder de Barack Obama em 20 de janeiro de 2009. Ele já havia visitado o país há dois anos, quando ainda não assumira o cargo. Sua viagem também acontece pouco mais de um mês depois da do presidente Obama, que realizou uma escala de poucas horas na base de Bagram, a 50 km de Cabul, para se reunir com os soldados americanos.