Washington - O tiroteio no qual uma deputada democrata ficou gravemente ferida e que deixou seis mortos no sábado no Arizona indignou a esquerda americana, que ainda sem saber se foi um ato político, denunciou a "retórica envenenada" dos ultraconservadores.
O senador democrata de Illinois, Richard Durbin, disse no domingo à cadeia de televisão CNN que alguns slogans do movimento ultraconservador Tea Party durante as eleições legislativas de novembro podiam levar a "pessoas instáveis a pensar que atos de violência são aceitáveis".
Durbin citou frases utilizadas por Sarah Palin, ícone da direita norte-americana, dirigidas à deputada vítima do ataque, Gabrielle Giffords, que conseguiu sua cadeira na Câmara dos Representantes por uma estreita margem no Arizona frente a um candidato do Tea Party.
Palin tinha declarado a seus partidários: "não retrocedam, recarreguem" (suas armas) ou inclusive "considere os colégios eleitorais como alvos".
Posteriormente, Palin defendeu o uso destes slogans dizendo que se tratava de metáforas na luta eleitoral.
Sem estabelecer um vínculo direto entre as declarações de Palin e o ataque do sábado, o senador Durbin, que as qualificou de "retórica envenenada", afirmou que a imprensa deveria sentir-se obrigada a dizer que tais slogans "ultrapassam os limites".
"Talvez sejam aceitáveis do ponto de vista da Constituição americana, mas não deveriam ser uma retórica aceitável, e não deveríamos divulgá-la no rádio e na televisão", completou Durbin, em referência à primeira emenda da Constituição que garante a liberdade de expressão.
O senador republicano do Tenessee Lamar Alexander rejeitou a insinuação segundo a qual Palin poderia ser indiretamente responsável pela tragédia, formulando ao mesmo tempo um chamado contra a violência política.
"Deveríamos ser muito prudentes quanto a imputar as ações de um indivíduo mentalmente perturbado a um grupo particular de americanos que têm suas próprias convicções políticas", declarou à emissora CNN.
Alexander afirmou que o atirador, Jared Lee Loughner, 22 anos, lia Karl Marx e Hitler e tinha queimado a bandeira norte-americana, "o que não corresponde ao típico perfil de um membro do Tea Party".
Sarah Palin divulgou no sábado uma breve mensagem no Facebook, apresentando suas "sinceras condolências" às vítimas do tiroteio.
Rebecca Mansour, que trabalha em sua equipe de campanha, defendeu-se no domingo de qualquer responsabilidade no ataque. "Não temos absolutamente nada a ver com isso", afirmou em declarações a um programa de rádio.
Gabrielle Giffords, alvo de violentas críticas do Tea Party, em especial por sua oposição a uma controversa lei sobre imigração e por seu apoio à reforma do sistema de saúde promovida pelo presidente Barack Obama, tinha recebido várias ameaças durante a campanha.
Clarence Dupnik, xerife (democrata) do condado que inclui o distrito de Giffords, denunciou no sábado a deterioração do clima político que, na opinião dela, aumenta o risco de tais ameaças.
"Todas essas declarações ácidas que inflamam as paixões do público americano, transmitidas por gente que faz delas uma profissão, talvez seja liberdade de expressão, mas têm consequências", disse Dupnik durante coletiva de imprensa em Tucson.
Dupnik voltou ao tema no domingo
"Creio que a retórica do ódio, o desafio do governo, a paranoia sobre os atos do governo, e as tentativas de exacerbar (os sentimentos) do público todos os dias, 24 horas, tem um impacto nas pessoas, sobretudo de desequilíbrio", afirmou.