Juba - Um clima de tensão reina no Sudão do Sul, na véspera do referendo de independência que pode marcar a secessão do maior país do norte da África, para o qual foi montado um forte esquema de segurança.
O sul, majoritariamente cristão, deseja separar-se do norte, dominado pelos muçulmanos.
"Falta só um dia para votar", comemora um impaciente Santos, jovem defensor da secessão, que espera em um bar às margens do rio Nilo. "Aqui nós podemos tomar cerveja, mas não em Cartum. Vamos dizer adeus aos árabes".
Um grande show de hip-hop para celebrar a independência reuniu milhares de jovens na noite de sexta-feira em Juba, capital do sul, onde tudo gira em torno do referendo. Políticos ocidentais e celebridades como o ator americano George Clooney acompanham de perto o processo político.
Observadores locais e internacionais, como o Centro Carter, a União Europeia e a Liga Árabe divulgarão avaliações preliminares alguns dias depois do referendo, mas a data dos primeiros resultados ainda não foi anunciada.
Os Estados Unidos, altamente envolvidos na preparação do referendo, enviaram ao Sudão o senador John Kerry e o enviado especial da Casa Branca Scott Gration.
Durante o referendo, que começa no domingo e se extenderá até o dia 15, os sudaneses do sul deverão escolher entre manter a unidade do Sudão ou dividir o país.
Todos, incluindo as autoridades do norte, sabem que a opção pela independência do Sudão do Sul vencerá. As únicas incertezas se referem ao grau de participação da população e ao respeito das normas democráticas durante o pleito.
De acordo com a lei de referendo, pelo menos 60% dos cerca de quatro milhões de eleitores devem votar para que o resultado seja válido. As autoridades fazem campanha para que os sudaneses compareçam às urnas logo nos dois primeiros dias do referendo.
Milhares de policiais foram mobilizados para reforçar a segurança nas grandes avenidas de Juba e nos bairros populares. Cinco mil agentes receberam treinamento especial para a ocasião.
O presidente sudanês, Omar al-Bashir, se comprometeu a reconhecer o resultado do pleito, se este for realizado de maneira "livre e transparente". Entretanto, considerou na sexta-feira, em entrevista à rede Al Jazeera, que o sul "não tem capacidade de criar um Estado ou uma autoridade".
"A estabilidade do sul é muito importante para nós, pois uma instabilidade pode repercutir no norte", estimou.
Segundo dados da ONU, mais de 120.000 sudaneses favoráveis à secessão que vivem no norte viajaram até o sul para votar no referendo. Al-Bashir garantiu que os sudaneses favoráveis à secessão que ficarem no norte terão seus direitos respeitados, mas serão considerados estrangeiros.
A realização do referendo está prevista no acordo de paz assinado em 2005 entre norte e sul, que pôs fim a uma guerra civil de mais de 20 anos.