Manifestações em várias cidades da Itália, entre elas Roma e Milão, estão sendo realizadas nesta terça-feira em protesto contra a decisão do Brasil de negar a extradição do militante de extrema-esquerda Cesare Battisti, condenado em seu país à prisão perpétua por sua participação em quatro assassinatos.
As manifestações foram organizadas por partidos de centro, assim como de direita e esquerda, diante da sede da embaixada do Brasil em Roma, na praça Navona, e ante o consulado brasileiro em Milão.
Em Palermo, Bari, Nápoles, Veneza e Bolonha também serão realizadas mobilizações e atos de protesto.
Os diferentes movimentos políticos, mesmo que unidos contra a decisão, vão protestar de forma separada e, em Roma, começarão a desfilar a partir das 13h de Brasília.
A polícia autorizou que o partido no poder, Partido das Liberdades (PdL), dê início às manifestações, seguido por vários movimentos de direita, que asseguraram que participarão "sem símbolos ou bandeiras de partido".
Uma hora depois deverá desfilar o Partido Democrático, a maior formação de esquerda.
As várias manifestações também contarão com parentes das vítimas de Battisti.
Em Roma desfilará Alberto Torregiani, filho de Pierluigi, o joalheiro assassinado em Milão, em 1979, por um comando do grupo de extrema-esquerda Proletários Armados pelo Comunismo (PAC), do qual Battisti foi membro.
Torregiani, entre os organizadores do protesto, reuniu-se pela manhã em Milão como chefe de governo, Silvio Berlusconi, que prometeu continuar com a batalha para obter a extradição do ex-militante ante o novo governo brasileiro presidido por Dilma Rousseff.
Berlusconi, no entanto, assegurou que as relações com o Brasil não mudarão, apesar das tensões causadas pela recusa da extradição.
"Este caso não afeta as boas relações que temos com o Brasil, trata-se de um caso de justiça, por isso nossas relações com esse país não mudarão por causa dessa situação", declarou Berlusconi ao término de uma reunião com Torregiani.
"A mim parece que Battisti cobriu com ideologia política sua realidade de verdadeiro criminoso", enfatizou.
O embaixador da Itália no Brasil entregou às autoridades brasileiras uma carta do chanceler Franco Frattini dirigida à presidente Dilma Rousseff a propósito do caso.
O diplomata Gherardo La Francesca participou da cerimônia de posse de Dilma em Brasília, mas regressou a Roma no domingo, após ser chamado para consultas por Frattini, destaca a imprensa.
O chefe da diplomacia Franco Frattini recebeu Gherardo La Francesca nesta terça-feira "para examinar as consequências da ação judiciária do governo italiano relativas ao caso Battisti e suas repercussões em nível europeu".
"Uma iniciativa europeia sobre a questão, promovida pela Itália, não está excluída para as próximas horas", afirmou o ministério em outro comunicado.
A Itália também estuda a possibilidade de recorrer à Corte Internacional de Justiça (CIJ) de Haia diante da negativa do Brasil de extraditar Battisti, segundo Frattini, em declarações ao jornal Corriere della Sera, publicadas no domingo.
O ex-presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, decidiu na sexta-feira passada, em seu último dia de governo, não extraditar para a Itália Cesare Battisti, o que foi recebido com duras críticas pelo governo italiano.
Battisti foi condenado à revelia, em 1993, na Itália, à prisão perpétua, por quatro mortes e cumplicidade em assassinatos cometidos em 1978 e 1979, crimes dos quais se diz inocente.
Battisti foi detido em 2007 no Brasil a pedido da Itália. O Supremo Tribunal chegou a decidir a favor da extradição, mas a palavra final foi deixada ao presidente Lula.