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Egito teme agravamento de tensões religiosas após atentado contra coptas

Um temor generalizado de que se agravem as tensões religiosas imperava no Egito, no dia seguinte ao atentado contra uma igreja copta em Alexandria, que deixou 21 mortos e que o governo atribui ao terrorismo internacional ligado à rede Al Qaeda.

Cinco mil pessoas compareceram ao funeral das vítimas do atentado contra a igreja dos Santos no cemitério copta da segunda maior cidade do Egito.

Enquanto isso, jornais egípcios de todas as tendências instavam cristãos e muçulmanos a se manterem unidos, temendo que o massacre cometido na noite de Ano Novo provocasse tensões cada vez mais graves entre as duas comunidades.

"Alguém quer ver o país explodir" e provocar "uma guerra civil religiosa" no Egito, destacou o jornal pró-governamental Rose al-Yusef.

Já o jornal independente Al Choruk advertiu que "se o plano (dos terroristas) marcha segundo o previsto", o Egito poderia ver-se imerso em uma guerra civil como a que ocorreu no Líbano, em abril de 1975.

No entanto, a estratégia do governo de tratar o atentado, antes de tudo como questão de segurança, que atenta contra todos os egípcios sem importar sua crença religiosa, foi criticada.

"Não será possível conter o impacto deste ano criminoso (...), senão enfrentando-o de forma franca e corajosa, sem enterrar a cabeça na areia" diante das tensões interreligiosas, destacou o jornal Al-Masri Al-Youm.

A hipótese de um carro-bomba, levantada a princípio pelas autoridades, foi descartada pelo ministério do Interior, que revelou que o massacre foi "provavelmente" praticado por um camicase, que teria levado explosivos de fabricação caseira, seguindo ordens "de elementos externos".

O presidente egípcio, Hosni Mubarak, denunciou no sábado o envolvimento de "mãos estrangeiras" na matança.

O atentado, que não foi reivindicado, ocorreu dois meses depois de que um grupo próximo ao braço iraquiano da Al-Qaeda que teria sido responsável pelo ataque contra uma catedral em Bagdá, em 31 de outubro, ameaçou os coptas egípcios caso sua igreja não libertasse duas cristãs que, segundo o grupo, estão "presas em conventos" por terem se convertido ao Islã.

Os coptas, a maior comunidade cristã do Oriente Médio, representam de 6% a 10% da população do egípcia, de um total de 80 milhões de habitantes, a maioria de muçulmanos sunitas.

O patriarca da Igreja copta, Chenuda III, pediu que os autores do ataque sejam rapidamente detidos e julgados, qualificando o atentado de ato "terrorista" e "covarde" que busca "desestabilizar o país".

As principais autoridades religiosas muçulmanas do Egito, bem como o movimento islamita de oposição da Irmandade Muçulmana, também condenaram com firmeza o massacre.

O atentado foi igualmente condenado pela comunidade internacional.

Depois do papa Bento XVI, o Conselho das Igrejas, com sede em Genebra, condenou o "terrível ataque contra fiéis inocentes".

O presidente americano, Barack Obama, destacou que os autores da explosão não tinham "nenhum respeito pela vida e a dignidade humanas", declaração com a qual Washington se somou às firmes condenações ao atentado feitas por Paris, Londres, Roma e várias capitais do Oriente Médio.