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Gbagbo: intervenção na Costa do Marfim provocará guerra

O presidente marfinense Laurent Gbagbo parece firme em sua posição de conservar o poder: neste domingo, reagiu à ameaça de intervenção dos países vizinhos afirmando que qualquer tentativa de derrubá-lo provocará uma guerra civil e arruinará a economia regional.

Na próxima terça-feira, três presidentes africanos visitarão Abidjan em uma última tentativa de convencer Gbagbo, de 65 anos, a ceder o poder a Alassane Ouattara, que venceu as eleições de 28 de novembro. Caso isto não aconteça, o próximo passo das potências regionais pode ser uma intervenção militar.

Gbagbo, que alega ser o verdadeiro vencedor do pleito presidencial, parece irredutível em sua posição, e recusa-se a entregar o poder ao rival Ouattara - cujo triunfo nas urnas foi reconhecido pela ONU e pelas comunidade internacional.

O secretário-geral da ONU Ban Ki-moon e vários líderes mundiais já alertaram Gbagbo de que sua teimosia pode levar o país a uma nova guerra civil.

Partidários do presidente, entretanto, inverteram a situação, afirmando que uma eventual intervenção dos países africanos para tirar Gbagbo do poder será o estopim da guerra civil.

Ahoua Don Mello, porta-voz do regime, declarou que a ameaça lançada pela Comunidade Econômica dos Estados da África do Oeste (CEDEAO) de recorrer à força para tirar Gbagbo do poder é "um complô ocidental coordenado pela França", e disse que se esta intenção for concretizada, não se responsabiliza pela segurança dos milhões de imigrantes regionais que vivem na Costa do Marfim.

Mello afirmou "não acreditar de forma alguma" em uma intervenção militar na Costa do Marfim, justamente por haver milhões de cidadãos de outros países da África ocidental trabalhando nas lavouras de cacau do país.

"A Costa do Marfim é um país de imigrantes", argumentou. "Todos estes países têm cidadãos na Costa do Marfim, e eles sabem que se nos atacarem o conflito se tornará uma guerra interna".

"Será que a Burkina Fasso está pronto para receber de volta os três milhões de habitantes que migraram para a Costa do Marfim?", indagou.

"O povo da Costa do Marfim irá se mobilizar. Isso aumenta nosso patriotismo. Isso fortalece nossa fé no nacionalismo marfinense", indicou Mello, que ocupa a pasta de Infraestrutura e Saneamento no ministério de Gbagbo.

"Estamos sempre abertos ao diálogo, mas dentro do respeito rígido às leis e regras da República da Costa do Marfim", acrescentou.

Apesar dos dez anos de crise, a Costa do Marfim ainda é uma economia importante na região. O país exporta mais de um terço do cacau consumido no mundo e mantém uma pequena mas promissora produção de petróleo, além de operar dois dos principais portos da região.

Reunida na sexta-feira na capital nigeriana, a CEDEAO - que inclui 15 países - decidiu enviar uma última missão diplomática de alto nível à Costa do Marfim para tentar negociar a resignação pacífica de Laurent Gbagbo, ameaçando processar os responsáveis pela onda de violência que aterrorizou o país depois das eleições.

Em um comunicado divulgado após o fim da cúpula, a CEDEAO declarou que, diante da resistência de Gbagbo, "a comunidade não terá alternativa a não ser tomar outras medidas, incluindo o uso legítimo da força, para alcançar os objetivos do povo marfinenses".

No sábado, Mello reagiu em nome de Laurent Gbagbo, indicando que "esta ameaça é inaceitável".

Além disso, o Banco Central dos Estados da África Ocidental excluiu o atual presidente da administração das contas do país, entregando esta função a Ouattara.

Também a União Africana manifestou-se a favor da possa de Ouattara, deixando Gbagbo completamente isolado.

O Alto Comissariado da ONU anunciou no sábado que 14.000 marfinenses já fugiram do país para a vizinha Libéria, com medo da instalação de um novo conflito.

Ouattara e seus partidários continuam isolados em Abidjan, fortemente ocupada pelas forças leais a Laurent Gbagbo. O grupo é protegido por 800 soldados da missão de paz da ONU, mas está tecnicamente encerrado em um hotel da capital.