No dia em que o Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) condenou a violência dos sequestros e assassinatos cometidos durante o período pré-eleitoral da Costa do Marfim, o ex-premiê Alassane Ouattara defendeu uma intervenção, por parte do Tribunal Penal Internacional (TPI), para remover Laurent Gbagbo da Presidência. Ouattara venceu o segundo turno, em 28 de novembro, mas o atual chefe de Estado não reconhece o resultado. A ONU informou ontem que 173 pessoas já morreram, 471 foram detidas, 90 sofreram tortura e 24 estão desaparecidas, desde que a população saiu às ruas de Abdijan para protestar. Ontem, o atleta e ídolo marfinês Didier Drogba exortou calma às partes envolvidas na crise.
;Esperamos que o TPI possa enviar uma missão à Costa do Marfim para estabelecer a responsabilidade de uns e outros, e que todos aqueles envolvidos, de uma maneira ou de outra, sejam levados a Haia (sede da Corte);, afirmou o premiê da Costa do Marfim nomeado pelo governo opositor, Guillaume Soro. A comissária adjunta para os direitos humanos da ONU, Kyung-Wha Kang, declarou-se alarmada com a violência. ;Esperamos energicamente que a comunidade internacional não demore muito para se dar conta de que o lugar de Gbagbo não é o palácio presidencial, e sim o Tribunal Penal Internacional de Haia;, afirmou.
Resolução
A resolução aprovada ontem pelo Conselho de Direitos Humanos manifesta preocupação com as ;atrocidades;. Apresentada pela Nigéria, em nome dos países africanos, a medida foi aprovada sem votação pelos 47 membros do painel. ;A resolução condena veementemente as violações dos direitos humanos que ocorreram na Costa do Marfim, incluindo sequestros, desaparecimentos forçados, detenções arbitrárias, execuções, atos de violência sexual, negação do direito de reunião pacífica, perda de vidas e destruição de propriedades;.
Na quarta-feira, o primeiro-ministro Guillaume Soro havia pedido à comunidade internacional que recorresse à força para depor Gbagbo. Segundo a Comissão Eleitoral, Ouattara obteve 54,10% dos votos. Hoje, em Abuja (Nigéria), será realizada uma importante reunião da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (Cedeao), que já pediu para Gbagbo entregar o poder.
Apelo de craque
Didier Drogba, atacante do Chelsea (Reino Unido) e capitão da seleção de futebol da Costa do Marfim, fez ontem um apelo por moderação aos partidários do presidente Laurent Gbagbo e do rival Alassane Ouattara. ;Peço para que não partam para a violência e façam todo esforço para restaurar a calma e a democracia responsável, pela qual espera a nossa nação;, disse em um comunicado, segundo o diário francês Le Figaro. Drogba também pediu que a comunidade internacional seja cautelosa em resposta à disputa, dizendo que os marfinenses sofreriam se o país fosse privado dos financiamentos de entidades internacionais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI).