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Depois de cartas-bomba, prefeito de Roma já fala em 'onda' de ataques

Na antevéspera do Natal, Roma foi cenário de dois ataques a bomba contra embaixadas e entrou em alerta máximo para enfrentar o que o prefeito Gianni Alemano já classifica como uma ;onda de terrorismo;. Por volta do meio-dia (9h em Brasília), o responsável pela correspondência na embaixada da Suíça abriu um pacote que continha explosivos. Poucas horas depois, o mesmo aconteceu na embaixada do Chile. Os dois funcionários diplomáticos ficaram feridos. Uma terceira carta foi interceptada pela polícia italiana na embaixada da Ucrânia, mas continha apenas um cartão com votos de feliz Natal. Todas as representações diplomáticas, inclusive a do Brasil, estão em guarda. As autoridades ainda não identificaram os autores dos atentados, mas classificaram o episódio como ;um ataque com objetivos terroristas;.

As suspeitas recaem sobre grupos anarquistas e de extrema esquerda, segundo fontes citadas pelo jornal Corriere della Sera. Na manhã de ontem, o governo italiano registrou dois alarmes falsos de bomba em seus escritórios. O caso não teria ligação com o pacote suspeito encontrado na última terça-feira em um vagão vazio do metrô de Roma: lá, o material encontrado foi apenas cimento, e não pólvora, como foi divulgado inicialmente. De acordo com Alemanno, os atentados às embaixadas tinham objetivos ;internacionais;. ;Isso é uma onda de terrorismo contra as embaixadas. É mais preocupante do que um ataque isolado;, declarou o prefeito.

Para o ministro do Interior, Roberto Maroni, os ataques podem ser similares aos cometidos em novembro na Grécia. ;Seguimos a pista dos anarquistas insurgentes;, afirmou à imprensa local. O grupo seria extremamente violento, atuaria também na Espanha e manteria uma rede entre os núcleos nos diferentes países europeus. Na Itália, a ameaça extremista coincide com uma onda de protestos contra as medidas de austeridade adotadas pelo premiê Silvio Berlusconi.

Outra possibilidade levantada pelos investigadores italianos é de que o ataque seria responsabilidade de um grupo ecoterrorista. A hipótese se fortalece com um incidente registrado em outubro passado, quando foi encontrado perto da embaixada Suíça um pacote com explosivos, que não foram detonados, com a mensagem: ;Costa, Silva e Billy livres;. Os três são ativistas ambientais radicais presos em Zurique. O ataque à representação do Chile seria uma coincidência, porque as iniciais ;ch; são usadas pelos dois países.

Brasileiros
Ruas do norte da capital italiana, na área das duas embaixadas, foram fechadas. A polícia romana fez buscas em todas as representações diplomáticas, colocadas em estado de alerta. A representação brasileira entrou em contato com a chancelaria italiana para pedir o reforço da segurança. O embaixador reuniu-se com todos os funcionários para orientá-los a ficarem atentos para qualquer pacote suspeito.

O embaixador chileno em Roma, Oscar Godoy, disse à imprensa de seu país que não tinha recebido ameaças ou qualquer aviso das autoridades sobre um possível ataque. ;Não temos ideia da origem do pacote, nem temos antecedentes para formar uma hipótese. Fomos pegos totalmente de surpresa;, confessou. A explosão na embaixada do Chile ocorreu na hora da confraternização de fim de ano no primeiro andar do prédio. O funcionário César Mella ficou em estado de choque. ;A bomba explodiu nas mãos dele. O ferimento foi mais do lado direito. Ele também recebeu estilhaços no abdômen e no rosto, mas nenhum órgão importante foi afetado;, informou o embaixador Godoy. Já o funcionário suíço, de 53 anos, sofreu ferimentos graves e pode perder parte da mão esquerda.

APREENSÃO NA ÍNDIA
; A Índia divulgou ontem um alerta de terrorismo para Mumbai, depois de receber a informação de que quatro membros de um grupo extremista teriam entrado na cidade, segundo a TV americana CNN. Eles estariam planejando um ataque programado para o Natal ou o ano-novo. Os suspeitos fazem parte do grupo Lashkar-e-Tayyiba, o mesmo responsável pelo atentados violentos de novembro de 2008 a três hotéis, uma estação de trem e um centro cultural judaico, com saldo de 164 mortos. No mês passado, os indianos marcaram o segundo aniversário dos ataques com uma marcha a favor da paz. O primeiro-ministro Manmohan Singh afirmou que seu governo soma esforços para reprimir novas atividades terroristas e julgar os culpados. ;Não vamos sucumbir aos planos de nossos inimigos. Nós nos comprometemos a redobrar os esforços para capturar os autores desse tipo de crime contra a humanidade, para que eles enfrentem a Justiça;, prometeu Singh.


Congresso mantém Guantánamo

Nas últimas sessões da atual legislatura, e a despeito de os governistas ainda deterem maioria, ambas as casas do Congresso norte-americano aplicaram um golpe fatal nos planos de Barack Obama para concretizar a primeira decisão que assinou como presidente: a de fechar a prisão mantida na base naval de Guantánamo, em Cuba, para prisioneiros de várias nacionalidades suspeitos de terrorismo. O orçamento do Departamento de Defesa para o ano fiscal iniciado em 1; de outubro passado, com dotação total de US$ 725,9 bilhões, contém dispositivos que inviabilizam a remoção dos detidos ; seja para outros países ou para julgamento por tribunais nos Estados Unidos.

Um resumo divulgado pela Comissão de Defesa do Senado explica que o texto ;impede a utilização de recursos do departamento para construir ou modificar centros nos EUA destinados a acolher prisioneiros de Guantánamo;. Uma das medidas inseridas proíbe o Pentágono de financiar ;o traslado, a libertação ou qualquer tipo de ajuda; aos réus que aguardam julgamento na base naval americana em Cuba. Além disso, o projeto orçamentário autoriza a detenção por tempo indeterminado dos prisioneiros considerados de alta periculosidade ; categoria na qual se incluiriam 48 dos 174 homens mantidos atualmente na prisão especial.

Desde que assinou a ordem de fechamento de Guantánamo, no dia da posse, Obama tenta viabilizar a transferência dos presos e a desativação da prisão. Acordos bilaterais com governos aliados permitiram a repatriação de alguns dos detentos, ou mesmo a transferência de outros. A iniciativa, porém, encontrou resistências nos países sondados ; entre eles o Brasil, que recusou a proposta, segundo documentos diplomáticos americanos vazados pelo site WikiLeaks.

O orçamento do Pentágono, aprovado depois de negociações que se arrastaram por meses, será agora enviado ao presidente. Obama poderá aprová-lo ou impor veto, total ou parcial. Para a Casa Branca, porém, a dificuldade em passar a desativação de Guantánamo com maioria governista em ambas as casas do Congresso sinaliza para problemas ainda mais complexos a partir de janeiro, quando tomam posse os novos deputados e senadores eleitos em novembro último. A renovação total da Câmara deu maioria à oposição republicana na casa. No Senado, os democratas mantiveram estreita maioria depois da renovação de um terço das 100 cadeiras, mas já não dispõem dos 60 votos necessários para controlar as comissões e dominar a pauta legislativa.