Estocolmo - O escritor peruano Mario Vargas Llosa recebeu, esta sexta-feira (10/12), o prêmio Nobel de Literatura 2010 das mãos do rei Carl Gustav da Suécia, em cerimônia no Konserthuset (Sala de Concertos) de Estocolmo, na qual esteve acompanhado dos demais premiados, com exceção do Nobel da Paz.
O monarca sueco entregou ao escritor nascido em Arequipa há 74 anos e naturalizado espanhol a medalha com o perfil do criador dos prêmios, Alfred Nobel, que lhe foi atribuída por sua "cartografia das estruturas de poder".
Vestindo fraque, Vargas Llosa - o primeiro Nobel de Literatura de língua espanhola desde o mexicano Octavio Paz, premiado em 1990 - recebeu ainda a confirmação escrita de que 10 milhões de coroas suecas (1,4 milhão de dólares, 1,1 milhão de euros) foram depositadas em sua conta.
O escritor Per Wastberg, membro da Academia Sueca e do Comitê Nobel, foi o encarregado de apresentar o novo Nobel de Literatura à família real e aos 1.400 convidados na cerimônia no belo Konserthuset, ao som do hino nacional sueco e de músicas de Mozart.
"A escrita de Mario Vargas Llosa formou a nossa imagem da América do Sul e tem seu próprio capítulo na história da literatura contemporânea", declarou Wastberg.
Vargas Llosa é um escritor "difícil de classificar", destacou Wastberg em sua apresentação do Nobel de Literatura, que ouvia sentado no palco, ao lado dos demais premiados.
Em suas primeiras obras, Vargas Llosa "renovou a novela; agora é um poeta não só de estatura latino-americana", mas universal, declarou Wastberg, membro da Academia Sueca, que elege os prêmios Nobel.
"Da provincial cidade de Arequipa, no Peru, emergiu um cidadão do mundo, um marxista que pelos abusos de (Fidel) Castro se tornou um liberal, um candidato perdedor nas eleições presidenciais (do Peru) que aparece agora nos selos do correio de seu país", disse.
Vargas Llosa é um "poeta épico e um historiador, um ensaísta, um colunista que abarca todos os temas, do futebol ao medo de voar", acrescentou Wastberg, que falou em sueco, com exceção do trecho final, proferido em espanhol.
O acadêmico sueco elogiou o talento do peruano para "unir a tradição narrativa de Balzac e Tolstoi com os experimentos modernistas de William Faulkner".
Ele lembrou, como fez Vargas Llosa em seu discurso de aceitação do Nobel, na terla-feira, que sua rebeldia contra um padre autoritário o levou a se refugiar na literatura e no mundo da imaginação.
Wastberg lembrou que os protagonistas do autor são rebeldes, citando Flora Tristán e seu neto, Paul Gauguin ("O Paraíso na Outra Esquina"), e o irlandês Roger Casement - protagonista de "o Sonho do Celta", que denuncia a escravidão no Congo belga.
Vargas Llosa "usa a ficção para penetrar nas facetas do poder e explorar as obsessões dos exploradores", afirmou o escritor sueco, destacando que na "América Latina, os escritores devem assumir o dever moral de não colaborar com a injustiça".
Vargas Losa "acredita na força da literatura" para combater "o preconceito, o racismo e o nacionalismo intolerante" e "tem lutado pela liberdade de expressão e pelos direitos humanos", assegurou.
"Estimado Mario Vargas Llosa! Você encapsulou a história da sociedade do século XX em uma bolha de imaginação. Esta se manteve flutuando no ar durante 50 anos e ainda reluz. A Academia sueca te cumprimenta", clamou, convidando o escritor a se aproximar para receber o prêmio.
"Aproxima-te e recebe o prêmio Nobel de Literatura deste ano das mãos de sua Majestade, o Rei" da Suécia, proclamou.
Depois da cerimônia, os premiados com o Nobel e seus convidados participaram de um banquete em sua homenagem, na prefeitura da cidade.