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Comitê Nobel tenta apaziguar ira de Pequim antes da cerimônia

Oslo (Noruega) - O comitê Nobel tentou apaziguar a ira da China nesta quinta-feira (9/12) após uma nova onda de críticas vindas do país, que ainda não se conformou com a atribuição do prêmio Nobel da Paz ao dissidente chinês Liu Xiaobo.

"Não é um prêmio contra a China. É um prêmio que honra a população chinesa", declarou o presidente do comitê, Thorbjoern Jagland, durante uma coletiva de imprensa às vésperas da entrega - simbólica - da recompensa ao opositor, que continua preso no país.

Dois meses após a atribuição do Nobel, a fúria de Pequim ainda não desapareceu: após chamar os membros do comitê de "palhaços", as autoridades se vangloriaram novamente nesta quinta-feira de ter o apoio "esmagador da maioria das pessoas no mundo".

"As pessoas do comitê Nobel devem admitir que estão em minoria", afirmou a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Jiang Yu.

Condenado no fim de dezembro de 2009 a 11 anos de prisão por "subversão do poder do Estado", após ter co-redigido a "Carta 08", um texto que reivindica uma democratização da China, Liu Xiaobo, 54 anos, não poderá ir até Oslo receber o prêmio.

Em 109 anos de história do Nobel da Paz, esta é a segunda vez que o prêmio não pôde ser entregue ao laureando ou a um representante.

Sob o regime nazista na Alemanha, o pacifista Carl von Ossietzky, premiado em 1936 pelo ano de 1935, foi o primeiro a não poder pegar o Nobel em Oslo porque estava aprisionado em um campo de concentração.

Não pretendendo comparar a Alemanha de Adolf Hitler à China, Jagland considerou que, à luz do importante e crescente papel, a segunda maior potência econômica do planeta deveria aceitar a crítica. "A China é agora um ator muito importante na cena mundial e deve se habituar a ser debatida e criticada" afirmou.

Nos bastidores, a gigante asiática tentou limitar o impacto da cerimônia, pedindo a outros países que boicotassem o evento e ameaçando os Estados que apoiassem Liu Xiaobo.

Vinte países, incluindo Rússia, Cuba, Irã, Venezuela e Afeganistão, recusaram o convite do Instituto Nobel, alguns, como a Sérvia, mencionando a necessidade de preservar as relações com a China.

Mas outros 45 Estados confirmaram as participações. A lista inclui os membros da União Europeia, Estados Unidos, Japão, Índia, Coreia do Sul e o Brasil.

"Estamos muito felizes porque dois terços das embaixadas em Oslo assistirão" à cerimônia, comentou Jagland.

Na China, onde a nomeação passou em silêncio em outubro, os sites de várias mídias estrangeiras, como a BBC ou CNN, foram novamente bloqueados nesta quinta-feira.

Após o anúncio da decisão norueguesa, as autoridades chinesas endureceram suas atitudes contra os dissidentes e fizeram de tudo para impedir os opositores de ir a Oslo.

"Em curto prazo, vemos que a situação para os defensores dos Direitos Humanos piorou, mas, em longo prazo, acredito que o prêmio terá efeito inverso", declarou Jagland.

Nesta quinta-feira, em resposta a uma convocação da Anistia Internacional, cerca de cem pessoas se manifestaram em frente à embaixada chinesa em Oslo para pedir a libertação de Liu Xiaobo e tentar entregar uma petição de apoio ao dissidente assinada por quase 100 mil pessoas, segundo a ONG.

Mas os manifestantes encontraram portas fechadas, de acordo com um fotógrafo da AFP.

"Nós enviaremos por fax ou por e-mail", declarou John Peder Egenaes, secretário-geral da filial norueguesa da Anistia, em frente às grades fechadas da missão.

As autoridades chinesas são também suspeitas de ter pressionado os cidadãos que vivem na Noruega para que eles participassem de manifestações hostis contra o Nobel desta sexta-feira.